O Diário da Borboleta Azul cap. 07- continuação
Eu pensava no meu passado e, em tudo o que eu havia passado para chegar até ali.
Passei parte da minha adolescência e começo da vida adulta com sérios problemas de garganta.
Às vezes eu ficava uma semana inteira no quarto a base de xaropes e comprimidos enormes engolidos a força com suco de acerola.
Enquanto as meninas de minha idade se divertiam nas festinhas e iam ao shopping, eu permanecia dentro de casa, na solidão do meu quarto, com as amígdalas inflamadas e uma febrinha que não me largava.
Do outro lado, meus pais se desdobravam, arrancando os cabelos sem saber o que fazer e muito preocupados com o meu estado de saúde.
Não suportavam me ver o tempo todo envolta em cobertores pesados em dias de verão.
O calafrio e o cheiro da gripe me enjoavam, então os meus únicos consolos eram os livros. E eu sabia que necessitava desesperadamente deles para me manter viva e ocupada.
Na biblioteca perto de casa, podia-se pegar três livros emprestados de uma só vez, e depois devolver em quatorze dias, ou antes se conseguisse terminar. Isso não era problema pra mim, pois eu conseguia devorar um livro em poucas horas.
Bastava a febre ceder pra eu correr à biblioteca e garantir mais três livros. E lá estava eu, voltando pra casa abatida, mas feliz! Com vários títulos novos para saborear.
A primeira coisa que eu fazia quando chegava em casa era passar álcool nas capas dos livros e depois no miolo.
Eu tinha todo esse cuidado, pois ficavam na cama comigo e eu queria sentir aquele "cheiro-de-livro ou de mimeógrafo escolar.
Quando queria que durassem mais, eu lia algumas páginas, depois guardava um pouco, retornava começando tudo de novo, só para o livro demorar mais a acabar.
Almejava ser escritora e, conseguia me imaginar velha, de óculos, coque na cabeça, sentada numa velho escritório cheirando a mofo, escrevendo seus próprios livros.
Na infância eu era mais sincera comigo mesma. Jurava que seria escritora e ponto final. Eu era como Tati Bernardi descrevia brilhantemente: "A mulher de medos bobos e coragens absurdas".Mas o tempo foi passando e eu não havia percebido que por causa do meu coração eu tinha sabotado meus próprios sonhos.