Um estranho no meio

Ao longo de meio ano ele preparou a palestra que, cronometradamente, duraria meia hora. Nem 30 segundos a mais, nem meio minuto a menos. E nem seria necessário anotações. Estava tudo gravado em sua mente. A filha, que residia no Meio-Oeste americano, lhe escreveu uma carta (ainda não tinha e-mail) alertando que ele até poderia chegar àquele meio, mas sem obter o sucesso esperado.

A esposa, com ironia, lembrou-o que ele, entre seus cinco irmãos, era o do meio. E não ‘daquele’ meio. Melhor seria buscar outro meio para ser ouvido. Respondeu que não arredaria nem meio palmo de seus propósitos. A Europa tinha que saber. Mas, no meio do caminho...

As apresentações foram encerradas ao meio-dia e meia com a alegação que o contrato de locação era até aquele horário. E não chegou sua vez. Devia ter uma meia dúzia à sua frente. Entretanto, um consolo: quem não tivera a oportunidade de se manifestar na oportunidade, automaticamente estaria inscrito para o próximo encontro que aconteceria no meio do ano no mesmo local e hora.

Cabisbaixo, sentindo-se um homem partido ao meio, retirou-se. No meio da tarde e há menos de meio quarteirão de sua casa, nem chegou a fumar meio cigarro quando sentiu fortes dores no meio do peito que lhe obrigou a sentar-se no meio-fio da calçada. Foi avistado por um artista de circo cujo apelido era Meio-Quilo, um anão, que procurou reanimá-lo sem sucesso.

Ah, um detalhe que quase passa despercebido. A palestra era sobre meio ambiente. Sua proposta era para que os meios de comunicação conscientizasse a população a não adquirir produtos embalados em plásticos.

Outro detalhe, não sem menos importância: isso ocorreu há meio século.