MORADOR DE RUA
O Carmelo era um desses. Deixou seus familiares em Januária, norte de
Minas e caiu na estrada da vida. Passava anos sem dar as caras mas, de
repente aparecia aqui em Belo Horizonte, cabeludo, barbado e trajando
molambos.
Ficava alguns dias na casa de parentes e, de repente, caía na mundo ou-
tra vez, arrastando um enorme saco onde levava as suas tralhas. Certa fei-
ta ele foi apanhado por uma guarnição do Corpo de Bombeiros que o levou
para o quartel da corporação, nos altos da Avenida Afonso Pena.
Tiraram seus trapos, encostaram-no num paredão e, com duchas pos-
santes, deram-lhe um banho daqueles, quase matando o pobre homem.
Fizeram-lhe o cabelo, a barba enorme e depois o soltaram. Ele voltou
para a casa dos parentes e, dias depois, caiu no mundo de novo a fim de
prosseguir na sua peregrinação.
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B.Hte., 19/07/21