nomadland

Ontem fomos ao cinema, á tarde que é o horário que eu mais gosto de ir. Parece gazeta, parece um ultraje ao mundo de merda do maldito trabalho. Adoro Sessão da Tarde.

Nomadland. Se eu disser que chorei o filme inteiro não estou mentindo.

Eu estive preso a uma certa visão de necessidade econômica, de pauperismo que obrigava as pessoas, mas a Adri me alertou que existia o amor á estrada, ao nomadismo, então

Por necessidade e por estilo de vida, cair na estrada, continuar a continuar.

A grande revanche é mandar tudo a merda e por o pé na estrada. On the road again.

Ou numa pausa da estrada até gostar de um trabalho simples e sentir-se útil, e cair na estrada de novo.

Relacionamentos profundos e extremamente amorosos que duram apenas alguns dias.

Grandes encontros. Grandes conversas. Filosofia.

O que é Filosofia? meu sogro Luis Maia perguntou.

Filosofia é o amor a vida, a sabedoria; a busca da essência das coisas, procurar saber viver.

Grandes são os desertos da minha alma.

A Frances é tão maior que qualquer outra.Fiquei apaixonado pela Linda May e respeito muito a Swankie, porque é meu oposto.

São tantas cenas maravilhosas.

Hoje lembrei, ao assistir o filme, em outra cena tão linda, que somos estrela, alô Ligia Evangelista, e chorei de novo. Choro como um cão danado, como o velho que sou, como a criança que fui. Me sinto gente e Miele chorando.

Uma das cenas mais lindas do filme é Frances falando o soneto 18, alô Duda Miranda, de Shakespeare.

Se te comparo a um dia verão

És por certo mais belo e mais ameno

O vento forte espalha as folhas de maio pelo chão

E o tempo de verão é sempre bem pequeno

Às vezes brilha o sol no céu em demasia

E outras vezes ele desmaia com frieza

E tudo o que é belo declina num só dia

Por acaso ou na eterna mutação da natureza

Mas em ti o verão sempre será eterno

E a beleza que tens tu nunca perderás

E também não chegaras da morte ao seu triste inverno

Pois nestas linhas eternas com o tempo crescerás

E enquanto nesta terra houver um ser

E olhos que possam ver, meus versos vivos te farão viver.

Outra cena linda do filme é a Swankie falando sobre as coisas lindas que ela viu durante a vida, pequenos milagres, algo simples, como o primeiro voo das andorinhas ao abandonar os ninhos, alô Marilia Miele, ontem nos fez lembrar de milagres!

Eu conheço a música do Ludovico Einaudi, e os pequenos milagres.

Esse filme é um pequeno milagre, um semidocumentário, com atores amadores. é uma declaração de amor ao espirito livre americano e uma crítica ao capitalismo selvagem.

O cinema é esse mundo de magia e segredos que são compartilhados, Clara Vasconcelos.

O cinema tem que ser isso, um pequeno milagre.

Mauricio Miele
Enviado por Mauricio Miele em 18/07/2021
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