Pigmaleoa
Pigmaleoa
A alma do peixe é o rio, divaguei certa vez, pensando sei lá se peixe pensava em alguma coisa.
Perigosíssimo, belíssimo, feissimo.
Os tais dos graus superlativos, mergulhos bem fundos.
Fagner, Raimundo, eu sou peixe. Há um aquário dentro de mim. Quando eu rio, é que as águas das lembranças agitam-se e não há muito espaço: tenho que conte-las com a razão. Elas são segredo.
Certas saudades são companhia; saudades do que teria sido se não tivéssemos sido covardes, saudades do que criamos, alimentamos e existiu, somente para a gente.
A Caçadora de Olhares Tristes, talvez soaria um ótimo título para um livro; hora essa, porque alegria demasiada assusta mais que fantasma nos dias atuais.
Mamãe sempre dizia para não rir demais num dia, porque no outro a gente choraria: penso que no outro dia eu chorava era de temor que algo ruim acontecesse.
Aprendi que a Alegria que só a gente sabe o porque têm segurança: é um sentimento sorrateiro que deixa o ser abobalhado: rir sozinho, como se houvesse uma conexão entre você e o motivo, o motivo secreto.
Talvez o motivo secreto seja uma viagem planejada, aquela repaginada legal no visual que só fica nos planos.
Mas talvez o motivo tenha mãos e pernas e um sorriso lindo. Talvez o motivo nem sonhe que é motivo.
Caso sonhasse, você seria vexame.
A alegria secreta permite moldar e imaginar. Síndrome de Pigmaleão do século XXI. Trabalho secreto é protegido.
O motivo, se ao menos imagin
asse sua fascinação, dançava pela casa. Reuniria os amigos para blindar: daria, por mais vezes aquele sorriso de canto de boca, que te faz perder o chão.
O segredo mantém o baú dos sonhos.
A esperança ficou na caixa de Pandora. Talvez nem a amizade ficaria. E Pandora trancaria-se na caixa. Pediria para a frustração atira-la em alto mar.