O REPIQUE
Rola uma tarde absurdamente azul além da minha janela.
Um vento frio fazendo crer que teremos geada amanhã.
E este cenário, este céu, a temperatura...Evocam lembranças de dias de muitas alegrias em minha vida.
Então retomo antigas festas de casamentos nas colonias polonesas, nos fundões de minha amada Irati.
Foram tantas em que participei, me esbaldei e pude sentir toda a alegria daquela gente festeira.
Quem é do Sul - em especial do interior do Paraná - sabe do que estou falando.
Atualmente são muito poucas as festas desta natureza, ainda que ocorram com o mesmo ritual dos tempos idos.
Tudo começava (ou começa ainda) na quinta feira. Os preparativos das carnes, das bolachas caseiras, dos "pivos" (cerveja caseira), enfim...
Muito foguetório, música , dança, animação...
Reuniam-se parentes e comunidade, integrados no trabalho e , irmanados,punham as mãos na massa - literalmente -
Decoravam-se os galpões com crepons e galhos de palmeiras - tudo muito colorido – armavam-se longas mesas sob os laranjais.
Grande era a expectativa e quando chegava o sábado !...
Foguetes, automóveis, carroças, convidados...
As "drusbash" ( damas de honra ou sobre noivas) espetando nos paletós e camisas dos cavalheiros, delicados cravos brancos confeccionados em tecido.Amarravam bandeirolas e penachos de papel colorido nos espelhos retrovisores, nas antenas de rádio, ao longo das grades das carroças.
Havia sempre uns sanfoneiros e rabequistas “esquentando” o ambiente.
As polaquinhas chegavam nos trinques e eles, os rapazes, não deixavam por menos.
Coques besuntados, cheirosos, cabelos de trigais presos a laçarotes...
As babuscas caprichavam no colorido dos lenços e sob uma chuva de foguetes a alegre comitiva tomava o rumo dos cartórios, das igrejas.
A equipe que ficava nos preparativos desdobrava-se em trabalho e exageradas bacias de maionese iam-se chegando pelas mesas.
Num canto da sala, solene repousava sobre uma mesinha de canto o indispensável “Corovai”.
Na fornalha, o cheiro dos frangos assados com farofa, dos pernis, dos leitõezinhos à pururuca, entorpeciam.
No braseiro das valas, as rebarbas gordurosas das costelas bovinas derretiam-se.
Tudo sob olhares atentos dos assadores, cuja alegria exagerada fora sempre movida à cachaça com limão.
Depois o banquete e na sequência as danças os “vivas” os fogos a animação que ia até o raiar do domingo.
E como se não bastasse, no domingo , havia o “repique” que era um farto almoço aos moldes daquele que ocorrera no sábado.
Prestes a encarar uma faxina pesada cá em casa, confesso que tudo o que eu mais queria neste momento era um “repique” e muita dança ao som de boa musica polonesa.
https://www.youtube.com/watch?v=9ZccIh16Vfs