BREVES "RECORTES" DA VIDA

BREVES "RECORTES" DA VIDA

Remexendo numa sacola plástica com vários recortes de antigas revistas me deparei com artigos sobre o DO-IN -- espécie de massagem oriental -- a respeito do "Feng Shui", técnica chinesa de 5 mil anos a nos ensinar como dispor móveis e objetos na casa de forma a HARMONIZAR o ambiente e trazer bons fluídos. Outra página citava alimentos que podem ajudar no controle do (e não da) DIABETES: abacate, aveia crua (em flocos), grão de bico e farinhas caseiras de banana verde ou berinjela... anotou ?!

Contudo, mais interessante do que a receita do Yakissoba era a história de vida do lendário "CHICO REI", o rei que virou escravo e adiante se tornou rei, aqui no Brasil, tendo comprado sua alforria. Tudo indica que não só deixou descendentes como até uma cidadezinha onde mais de 400 LIBERTOS por êle lá viveram. Com nome de Paraopeba -- é, esse mesmo, em Minas ao invés do Pará e com mais de 2 séculos de existência -- o vilarejo assistiu ao rei-escravo comprar sua própria alforria, a mina do Senhor na qual enricara a ambos (acredite quem quiser), além de alforriar 400 escravos, muitos deles membros de sua Corte africana, vindos no "tumbeiro" MADALENA. Para aplacar a fúria do mar encapelado, que ameaçava virar o navio, "sacrificaram" a Rainha Djalô, esposa do rei guerreiro "GALANGA", mais sua filha Itulô. O rei chegaria ao Brasil com o filho Muzinga, por volta de 1740, levados para Ouro Preto, onde virou "Chico", aliás, Francisco.

A história, de 4 ou 5 páginas, saiu na revista ISTO É número 1494, de 20 de maio de 1998 e é a prova incontestável de que "enquanto há Vida, há esperança" e que "IMPOSSÍVEL" é apenas o que a maioria não luta para realizar. Majestade que trabalhava nas próprias minas, o rei-operário tinha cetro e coroa de ouro, um Palácio real e título oficial DE REI, lhe dado pelo Conde de Bobadela, mas com influência apenas entre os seus.

Findou rico e respeitado e, ao morrer em 1781, deixou 42 potes com quase 100 quilos do precioso metal, aos 72 anos de exemplar vivência provando que "QUERER É PODER" ! Seus súditos e dependentes mudaram-se de Ouro Preto para uma área de nome PONTINHA, na região de Paraopeba, a 120 km de Belo Horizonte, área esta lhe vendida pelo padre Antônio Moreira, ao saber do ouro que traziam consigo. Seus descendentes (e herdeiros) estão lá desde aquela época, mas já não são mais donos da terra de seus ancestrais. Um conveniente e não esclarecido incêndio no cartório da cidade vizinha destruíu os documentos que comprovavam a compra e posse da gleba, a tal fazenda "Pontinha". Fazendeiro esperto comprou as áreas próximas e "englobou" na escritura a região dos descendentes de "Chico Rei" !

"Quem é rei nunca perde a majestade" e os moradores atuais carregam com orgulho o nome e sangue de seu "Soba". Isso me lembra um sujeito aqui do bairro "com o Rei na barriga"... quando recebeu carta com revista de Capoeira (lá por volta de 1993) veio à minha casa reclamar: no envelope escreveram Professor e êle era MESTRE ! Tempos depois dei-lhe 20 ou 25 reportagens de jornais de Belém com notas sobre a Capoeira local, estavam sobrando em meu arquivo. Agora, quase 30 ANOS depois, precisei consultá-las ! Me atendeu por celular, não permite que a mãe ceda para ninguém seu endereço atual.

-- "Só atendi porque é você" !, numa clara "indireta" para meu irmão... ligaria depois, estava dando aulas de Capoeira. Lá se foram 4 DIAS e nada ! Voltando à história, passados alguns anos o jovem Mestre decidiu entrar para o Grupo SENZALA, ainda com mestre "Peixinho"... o "rebaixaram" 2 ou 3 graduações. E agora, como é que eu fico ?! Se chamá-lo de Mestre, êle pode entender como ironia, sarcasmo... se eu fôr citá-lo pela graduação atual vou me sentir ridículo, afinal ouvi de sua boca "que era Mestre" !

A Capoeira "continua" sendo uma "bagunça": se o sujeito É VELHO, mesmo sabendo pouco ou quase nada, ninguém ousa lhe REDUZIR o título ! Pois deviam, já que o fazem para os mais jovens !

"NATO" AZEVEDO (em 17/julho 2021, 17hs)