Pensamentos da borboleta azul

Pensamentos da borboleta azul

Autor: Andreia Caires

Às vezes sinto-me uma menina, mesmo sendo uma mulher e levo sustos constantes quando me lembro que já sou uma senhora com mais de 40 anos!

Gosto das minhas linhas de expressão, ( não tenho muitas ) mas claro, que elas estão aqui no meu rosto para não me deixar mentir. Elas contam minha história.

Não seria nada mal se eu ainda tivesse aquela pele de pêssego de outrora mas, é preciso admitir que o tempo passou e aquela era outra Andreia, com outra cabeça, ainda que com muitas das mesmas manias de hoje do tipo: "separar a bolacha recheada no meio e comer a parte do recheio primeiro ou insistir na mesma marca de shampoo de vinte anos atrás ou desenhar com o dedo no vidro embassado do carro.." Ou seja, aquela era apenas um projeto de mim hoje.

Tive que passar por inúmeras fases e metamorfoses variadas na minha vida até conseguir "me encontrar". Essa história de "se encontrar" não é coisa de adolescente não.

Até hoje fico me esbofeteando toda vez que cometo um deslize, que insisto em "mutilar" meus sonhos achando-os ousados demais para alguém como eu. Mas é preciso aceitar a minha essência, a verdadeira Andreia que renasceu, saiu da crisálida e agora possui grandes asas azuis.

Para vocês terem uma ideia essa borboletinha aqui já foi: Grunge, roqueira, gótica, curtiu muito samba, resolveu andar certa época toda de branco com um enorme crucifixo no pescoço e se dizendo "espírita", já se consultou com uma mãe de santo e, na hora que ela incorporou um espírito e engrossou a voz, saiu correndo de medo e nem quis saber o que ela tinha pra falar, já foi bruxa, obreira da igreja universal, foi abandonada as vésperas do casamento... enfim, amadureci e resolvi andar com as próprias pernas ou melhor, voar com as próprias asas. Fiz da minha religião o amor, e entendi que as decepções nos fazem sofrer mas, é exatamente o sofrimento que nos torna mestres de nós mesmos.

E, como essa borboleta apesar de ingênua em seu passado de "lagarta e borboleta aprendiz" ela não esqueceu uma coisa importante: Escrever! Escrever tudo o que lhe acontecera ao longo da vida, ainda que ninguém queira ler, ela anotou!

Sim, meus amados ou pensaram que eu iria ficar a vida inteira chorando descabelada e me entupindo de doces? Uma borboleta é precavida...eu sempre digo que ela não voa alto apenas, ela voa baixo já repararam?ela precisa conhecer o terreno, sentir o cheiro da terra, das flores, do mar...

Aproveitei os anos sombrios que passei e, escrevi tanta coisa que nem eu mesma sei o que escrevi. Só quando começo vasculhar o computador e os antigos cadernos.

Compreendi ao longo da vida que menti demais para mim mesma. Que cometi umas crueldades comigo também, para satisfazer uma carência que já não combinava com o azul iluminado das asas que queria se mostrar em mim.

Hoje, sei perfeitamente que estou envelhecendo e sabe como sei? Não é pelas linhas de expressão ou algum fio branco, ou o cansaço a subir uma escada mas, pela vontade e necessidade louca de viver intensamente. Afinal, a borboleta não quer saber quanto tempo têm para viver e sim, quer mostrar suas cores, voar e ser ela sim a dona do tempo.

Andreia Caires
Enviado por Andreia Caires em 14/07/2021
Reeditado em 21/07/2021
Código do texto: T7299406
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