CARONA
Já tive para escrever sobre isso há um tempo e me esqueci, mas ontem lendo uma crônica do Jajá de Guaraciaba, lembrei-me.
Vou juntar dois acontecimentos que me levaram a parar de dar caronas para pessoas desconhecidas, mesmo quando aparentemente não oferecem nenhum risco.
Por inúmeras vezes nas minhas idas aos sítios e fazendas, coisa rotineira no meu antigo trabalho, eu dei carona para pessoas que pediam ou que aguardavam alguma condução e eu mesmo oferecia, sempre nos retornos para a cidade.
Uma vez eu vinha pela rodovia principal que liga uma cidade vizinha à minha, em frente a uma grande fazenda, onde tem muitas olarias e moradores, um homem me pediu carona e eu parei. Quando ele entrou no carro e no trajeto, eu fiquei cismado com o seu comportamento. Olhava com jeito estranho para o meu lado e sempre dava a impressão que iria pegar alguma coisa que estava no cós da calça. Eu puxava conversa e ele respondia, mas parecia que não respondia de acordo. Não deixei de botar minha atenção nele o tempo todo naquele percurso de seis quilômetros. Quando chegamos perto da cidade, já no trevo de entrada, parei o carro meio de repente e falei para ele descer ali que eu precisava tomar outro rumo. O sujeito acho que não era perigoso, mas entendi que foi arriscado.
Numa outra vez, em outra estrada, na minha ida vi aquele senhor na porteira de entrada de um sítio, pedindo carona para os que passavam na rodovia. Quando voltei ele ainda estava lá e então perguntei se ele estava indo para a cidade e ele respondeu que sim. Era um idoso e num breve diálogo me pareceu normal. Quando já estávamos nos aproximando da cidade, ele começou a conversar sobre política e pelo o que falou, percebi que não falava coisa com coisa, estava muito fora da realidade. O interessante é que nos outros assuntos eu não percebi nada de errado com ele. Considerando que a distância não passava de três quilômetros, então não conversamos muito. Na entrada da cidade parei numa preferencial ele abriu a porta do carro e saiu caminhando normalmente como quem soubesse para onde estava indo. Fiquei bastante tempo preocupado com aquele senhor.
Depois disso nunca mais dei carona a desconhecidos.