EU ACHEI O GATINHO DO DRUMMOND

"Não é fácil ter paciência diante dos que a têm em excesso". A paciência deve ser algum dom que a biologia ainda não demonstrou qual gene o carrega. Não é possível que Carlos Drummond de Andrade, com essa frase, tenha sido a única pessoa que percebeu que alguns vivem em um mundo onde há maturidade ou expectativa para esperar, enquanto outros não a tem nem em momentos de necessidade.

Eu amaldiçoo o primeiro homem que perdeu a paciência e não conseguiu mais encontrá-la! Esse péssimo ancestral, nascido pelas mãos do meu lamarckismo, é aquele que deve ser culpado pela nossa impaciência no viver.

Mas, hoje, quando parei para escrever, pensei nos meus gatos. Pois em meio a tantas criaturas, esses felinos simpáticos conquistam pouco a pouco a liderança do ambiente. Eles reinam como reina a paciência. Se ela fosse um animal, seria o preguiçoso gato, que talvez não seja tão preguiçoso assim, só esperto o suficiente para esperar a hora certa de dominar.

E enquanto o gato deita, dorme, acorda, come, recebe carinho e analisa o hábitat que vive dando a ele seus toques de pelos e patinhas pacientes, eu pulo cada etapa pequena da vida esperando o dia que o dom perdido pelo meu ancestral aparecerá e eu, por fim, olharei para os outros que herdaram o dom e direi: somos gatinhos!