PRINCÍPE NO SPOTLIGHT

"Prince William is not an institution; nor a soap star; nor a football hero. He is a boy: in the next few years, perhaps the most important and sometimes painful part of his life, he will grow up and become a man."

John Wakeham

Em Windsor, na véspera da transmissão em direto, ensaiaram todos a caminhada com um Mestre de Cerimónias da Firma a encenar a marcha fúnebre por ocasião das exéquias do Avô, o Princípe Filipe.

Andar num passo cadenciado, num ritmo certo que permitisse o acompanhamento de uma das câmaras posicionada em contra picado.

- Cuidado com as palavras.Há especialistas que lêem nos lábios enquanto se fala.À saída muito cuidado que vão efabular sobre o estado das relações entre os dois princípes e especular sobre a expressão corporal rigída ou descontraída.

Ele tinha conhecido a realidade desde o início.Fora o troféu dos Pais que mostravam à Rainha e à Nação que tinham cumprido o seu dever e dado um herdeiro ao trono do Reino Unido.

Os holofotes tinham estado acesos em todos os pequenos grandes momentos.A educação, a luta entre os Progenitores pela indigitação da ama, os primeiros passos, o comportamento na creche, as notas no Colégio, as suas disciplinas preferidas,Whetherby,Ludgrove,Eton - Geografia, Biologia e História de Arte.Destacara-se no Desporto, jogou pólo e encantou o público com uma expressão e olhar que lembrava a Mãe.

Ele observou com tristeza o desapego.A entrevista escândalo em que Diana se expôs e se imolou aos olhos de todos, tornando inevitável o divórcio, a sua quase expulsão, a perda do título,as breaking news e manchetes de todo o mundo a explorarem o assunto.

E o choque da sua morte. Diana Spencer, a princesa de Gales que os amava e acarinhava, que estivera sempre presente, os levou a eventos, á montanha russa e junto dos sem abrigo para que tivessem a exacta noção da miséria e do sofrimento e não repetissem a reacção de espanto do protagonista do conto “O Princípe Feliz” de Óscar Wilde quando saíu das muralhas do castelo e pôde observar enquanto estátua a miséria dos seus súbditos.Diana,a beldade de arrasar, uma ameaça ao status quo, uma activista humanitária, com uma extraordinária capacidade de comunicar com as massas e que quase poria a realeza de pantanas com uma certa inconsciência diletante de jovem endiabrada.

Ele apenas com quinze anos com o semblante fechado e os olhos baixos marchou com o irmão atrás do caixão entre o Pai, o Avõ e o Tio numa homenagem lindíssima que comoveu o mundo inteiro.

”Os ingleses sabem fazê-lo e em grande”.

E talvez nesse momento ele tivesse já pensado na crueldade e na perseguição implacável que foi movida em Paris pelos paparazzi de moto e que terminara num acidente horrível no Túnel da Alma bem no centro da cidade.

Entraram no castelo, as câmaras foram desligadas.

“Respirem, já podem sair da personagem.Tudo correu admiravelmente bem”.E aí terminava a reportagem em directo do funeral do princípe consorte.

William tinha ingressado nas Forças Armadas britânicas, feito voluntariado, entrado para a Universidade,constantemente e sempre filmado nem que fosse à distância e sem dar por isso, usou mesmo um pseudónimo para preservar a identidade do furor dos media,estagiou num banco e foi admitido na Royal Air Force.

Aprendeu a calçar as luvas brancas de cerimónia, a envergar o uniforme, a conter-se e a comportar-se quase sempre impecável e distante.A suscitar orgulho e admiração.A ser um princípe digno e bem comportado.Um exemplo sem mácula!

Namorou, conviveu, rompeu e casou-se com Kate Middleton que soube ajustar-se ao seu futuro papel com humildade e perfil discreto, e de quem teve três filhos.

Conseguiram quase sempre sair-se bem em público nas inaugurações e presenças ainda que passassem um revês com a publicação de fotos de Kate em topless a apanhar despreocupadamente um banho de sol, captadas durante umas férias do casal com uma objectiva a um kilómetro e meio da piscina no castelo aparentemente a salvo de invasões da privacidade.Por apresentar a futura rainha de seios desnudos houve escândalo,processos e indemnizações.

Naquela outra ocasião, estava tudo previsto como num guião de um filme.

Entravam ambos no jardim, iam cumprimentar os tios, saudavam polidamente todos os presentes e iam descerrar o pano e inaugurar a estátua da Princesa do Povo como lhe chamara o primeiro ministro trabalhista, Tony Blair.William à esquerda e Harry à direita.

Essa cena iria ser passada nessa noite nos telejornais de todo o mundo.

Ambos se portaram à altura.E quando saíram dos holofotes ainda contrafeitos da pressão, avançaram um para o outro, olharam-se nos olhos,estenderam as mãos para um aperto firme e despediram-se quase sem palavras.Sobriamente.

E por um momento, William ter-se-à imaginado a correr livre por um areal imenso, junto à rebentação das ondas, gritando eufórico e a plenos pulmões num gesto louco e pouco próprio a que ele só muito raramente e à revelia de milhões de olhos perscrutadores se podia permitir.

José Manuel Serradas
Enviado por José Manuel Serradas em 13/07/2021
Código do texto: T7298702
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