Série “Crônica Curta Crônica”: Preconceito
As luzes, nessa época do ano, costumam variar entre azul, amarelo, verde e vermelho. Os meninos? Esses são muitos, em geral andam sempre acompanhados: mãe, pai, irmão, irmã, babá. Apenas aquele cujos olhos cruzaram os meus não parecia ter acompanhante. Um negrinho desses que se encontra em sinais de trânsito. Calça um tanto desbotada, camisa e chinelos velhos. Devia ter seus dez ou onze anos de idade. Caminhava entre as pessoas como quem não é notado, mas não totalmente. Eu o fitava.
Acredito que ele não estava ali para pedir esmolas ou até mesmo roubar; furtar um objeto qualquer de uma loja. Parecia assustado e, em outros momentos, deslumbrado, principalmente após ter encontrado o que, suponho, estava a procurar: cercado de várias crianças, lá estava o Papai Noel do shopping. O negrinho permaneceu pelo menos dez minutos imóvel.
O funcionário vestido naquela roupa vermelha até que sabia como tratar as crianças, uma vez que todas elas eram de classe média e alta. Por alguns instantes, outra pessoa notou a presença do negrinho, o próprio Papai Noel do shopping. Vi a dor nos olhos do velho que se compadeceu com o menino, fazendo-me sentir o mesmo. Porém o velho e eu éramos incapazes de uma aproximação direta do menino. Cada um impossibilitado pelo preconceito que criou.