A MORTE DO RATO.

Lá estava eu, a caminho da redação. Emprego temporário, uma discreta revista no centro da cidade onde eu moro. Cidade essa que não sinto de mencionar.  Perdoe-me... 

Essa modesta moça, jovem jornalista, caminhava tranquilamente pelas ruas próximas ao centro do nosso rascunho de metrópole, e, entre uma e outra rua, eis que, de repente, surge um peculiar e asqueroso personagem, percorrendo livremente pelo canto de um velho muro. 

E lá estava ele, pequeno e ligeiro camundongo, em seu caminhar desatento pelo muro, entre um saco de lixo revirado e outro. Repentinamente, eis que surge um certo homem, sabe Deus de onde, desconhecido de mim, avistando o rato no canto do muro, logo apressou-se e correu atrás do bichinho até quase apanha-lo, estava o tal homem com um pedaço de pau em uma das mãos, sei lá onde aquele sujeito o conseguiu aquilo. Não havia mais ninguém na rua além de mim e o rato, no outro instante apareceu essa figura. Parei para observá-lo, pois via-se que suas intenções com o pequeno roedor não eram boas. Foi quando o homem acertou-o ao atirar o pedaço de pau, mirando certeira, golpeando-o na cabeça, esmagando-o no canto da parede ao ponto de ficar marcas de sangue. 

Fiquei horrorizada, pois mesmo depois de morto golpeou-o com a violência, por várias vezes, fiquei horrorizada com a violência empregada pelo moço. Não me contive e fui questioná-lo.

  - Ei... Moço... Oi...

  Parando o massacre olhou-me um pouco assustado, eu, mais ainda, pois somente naquele momento raciocinei no que eu estava fazendo. Eu, jovem donzela em uma rua pra lá de estranha, puxando assunto com um estranho muito do suspeito, mas, era tarde para voltar atrás. Continuei...

  - Ei moço... O que você está fazendo?

  O moço respondeu seco e direto.

  - Matando esse rato nojento.

  - E por qual motivo? 

  - Agora... E precisa de motivos... É um rato, simples assim, faz sujeiras, tem doenças, incomoda, é nojento, tem que morrer. Simples assim.

  Parei... Pensei...

  - Sério... Sério mesmo... Veja bem. Não que eu esteja defendendo o rato, que concordo que seja nojento, mas... O homem faz sujeiras por toda a natureza também, a séculos. Tem e transmite doenças mortais, quando não é a incubadora da própria doença para outros - a Covid- 19 fala por si - Incomoda o tempo todo. E mais... Criou armas, bomba atômica. Fez inúmeras guerras e está querendo outras mais... Será mesmo que o rato é o problema?

Logo imaginei alguma repreensão ou coisa pior. Estava já preparada para correr se fosse o caso. Para o meu espanto. Aquele homem não fez nada, não falou uma única sílaba. Apenas me olhou profundamente e depois saiu caminhando na direção contrária.

Eu continuei o meu caminho para o trabalho. 

Mesmo fazendo aquele trajeto outras vezes, nunca mais aquele moço apareceu. Eu não consigo me esquecer da cena e da morte do rato.

Não tenho a mínima ideia do que me fez lembrar da história. Nem do porquê escrevo-lá, talvez a falta de assunto, ou, assuntos paralelos correndo em minha memória. Sei lá...

Cronista que sou, não posso perder a oportunidade de relatar essa peculiaridade do meu dia a dia, nem mesmo quando ela surge tão desavisadamente.

( L. B )

LUISE BATILIERE.
Enviado por Tiago Macedo Pena em 11/07/2021
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