O lamento


Lendo O Mapeador de Ausências, de Mia Couto, encontro muitos tesouros em poesia e em sabedoria. Deparei-me agora com essa frase: "Não há lamento mais digno que o silêncio." Entrei dentro desse pensamento como se nele houvesse uma porta. E lá dentro da memória lembrei-me do dia que talvez tenha sido o dia mais triste da minha vida. Eu estava sentada no sofá da sala de visitas de minha casa. Alguns parentes foram me consolar. Mas eu não os conseguia ver. Só minha tristeza conversava comigo. E até ela mesma teve pena de mim. Um silêncio sepulcral me rodeava. Havia ali um lamento surdo, tristeza e dignidade. Acho que naquele dia eu encontrei com o "nada absoluto", com o início de mim, com o caos do meu universo. Precisava escrever sobre essa tristeza para que ela, finalmente, seja aqui sepultada. Na frase do Mia Couto, saio porta afora e não olho para trás.