O dilema do Poeta
Tento colocar no branco da folha algo conexo, mas às vezes sai ao contrário; só desconexão acompanhada de falta de idéias! Talvez seja o excesso de cerveja que circula pelo meu sangue, nas madrugadas, e o cansaço proveniente da vida que levo intensamente nas altas horas que fazem isso comigo. Afinal, eu quero o que? Sou um escritor? Um poeta? Talvez, só a aceitação do meu trabalho pode responder.
Com certeza e obrigatoriamente sei que sou um escrevinhador compulsivo. No trabalho cotidiano dentro de uma fábrica aqui no Japão, – pelo qual sou pago muito bem pago e regiamente - eu deixo de produzir a produção esperada pelos empregadores, de repente, para em seu lugar superproduzir idéias. Escrevo grandes textos quase sempre na hora errada. Ou será essa a hora certa para criar? O errado na verdade estará sendo a hora ou o meu tempo é que está sendo mal organizado? Eu afinal preciso sobreviver. Ganhar para o leite das crianças e o arroz e feijão do sustento da família. Só que o espírito fica a haver quando só a isso eu me dedico.
Criar. O objetivo maior está sempre restrito. Sempre com hora marcada, mas também sempre esperando uma oportunidade para surgir em letras rascunhadas, muitas vezes até em guardanapos de um bar – muito mais quando me embriago - nas fatídicas e adoráveis madrugadas. Tento sempre colocar no branco do papel algo válido que fale de coisas profundas, da vida, de Deus e do amor em sua singela pureza. Acabo muitas vezes falando bobagens, de coisas que alguns acham banais, sobre cerveja, sexo e madrugadas. Merda sou um escritor? Um poeta? Talvez.
O papel está em branco e só o escrevinhador pode preenchê-lo, além do escritor. Escrevinho, escrevo? O que importa? Para mim só interessa que os rascunhos surjam, conexos ou desconexos. Afinal, essa é a realização maior da minha vida.