DE GEPETO A MESTRE VITALINO (A alma do artista)

São os destroços e os caquinhos das coisas que formam os

espíritos, mas se forem dispersos ao léu podem deformar.

Gepeto não é tão pretensioso a ponto de competir com Deus. Tampouco seus planos são recriar a vida em outra modalidade. Ele é consciente das potencialidades cósmicas, mesmo se reconhecendo uma pessoa de natureza comum a todos os homens. Porém, em seus intuitos de artesão há ilimitações, apesar das imitações ao Grande Criador.

A criatividade o fascina. Aí suscita nele a consciência de um macrocosmo dominador e transcendental.

Em sua imaginação não há limites para a concepção.

Que há de extravagante em suas atitudes? Indaga-se, em meio às divagações. A resposta não virá de imediato, talvez ela esteja imbuída em suas atitudes.

Gepeto quer ser ele mesmo em sua criatura de madeira. Aí Pinóquio ganha vida e, consequentemente, vaidade. Não se contenta em ser uma marionete nas mãos do "pai", senão todos os homens o seriam. Não será um reprodutor de seus caprichos, mas tão íntimos a si, cujas mentalidades terão que permanecer interligadas.

Mestre Vitalino não quer dar a luz a filhotes deformados. Ele imagina uma transformação externa em que o sertão se expande em beleza e abundância.

A vida, mesmo sendo penosa deve ser reproduzida em barro e esperança. Faz um jumento, um boi, um menino. Não cospe em suas têmporas, nem sopra em suas narinas, mas os faz cheios de vida e de alegrias nordestinas.

Ele imagina uma alma de barro. Homem feito do pó.

Vai, vai construir um menino, levado feio, mofino. Abundante em virtudes, de notáveis formas, composto de tua avareza e tua bossa, que mostre a ti quem és.

O artista está gestante. Sua felicidade se revela em suas criações e ele as concebe repleto de entusiasmo e ternura.

Todas vezes que ele pinta, esculpe a sua cria e o amamenta, nutrindo-o certo de que ele lhe proporcionará vida.

-Texto idealizado por ocasião do aniversário de nascimento de Mestre Vitalino, na data de 10/07.