SERENATA INTERROMPIDA PELO RATÁ-TÁ-T

Existe uma música que sempre foi muita cantada nas saudosas serenatas que em um determinado momento diz: “Voltei para rever os amigos que um dia eu deixei a chorar de alegria, me acompanha o meu violão". Pois é! Como muito bem diz a música, eu também “voltei” para contar para os amigos do Recanto uma das minhas serenatas que não deu certo, eis que como se sabe nesta vida nem tudo da certo.

Toda a cidade interiorana tem a menina que chamaria de "a musa", a mais bonita, aquela que todo o jovem deseja namorar. Naquela época, em minha cidade, era a Rosana. Ela era uma morena muito bonita, cabelos compridos, aquela dos olhos negros. Em uma sexta-feira à noite, como fazíamos costumeiramente, estávamos reunidos o Marcelo, o Onofre e eu. Conversa vai, conversa vem, resolvemos fazer uma serenata para a Rosana. Enquanto fazíamos o aquecimento regado a cuba libre, passamos a discorrer quais músicas cantaríamos na serenata, o Onofre então nos disse que tinha uma que não poderia faltar, seria a primeira, aquela que abriria a serenata, tratava-se da música “Era um garoto, que como eu, amava os Beatles e os Rolling Stones”. Ele disse que Rosana gostava muito desta música. Disse também que gostaria que deixássemos somente ele cantar a parte da música que emita o som de uma metralhadora. Aquela: {Ratá-tá-tá-tá, tá-tá-tá-tá-tá}; nos disse que nesta parte da letra ele estava bem treinado. Nós concordamos apesar de acharmos um tanto estranho aquele pedido.

Chegando a casa de Rosana, nos posicionamos próximo a janela de seu quarto e começamos: {Era um garoto que como eu}, {Amava os Beatles e os Rolling Stones}, {Girava o mundo sempre a cantar}, {As coisas lindas da América}, {Não era belo, mas mesmo assim}, {Havia mil garotas a fim}, {Cantava Help and Ticket to Ride,{Oh, Lady Jane e Yesterday}, {Cantava viva à liberdade}, {Mas uma carta sem esperar}, {Da sua guitarra, o separou}, {Fora chamado na América}, {Stop, com Rolling Stones},{Stop, com Beatles songs}, {Mandado foi ao Vietnã}, {Lutar com vietcongs}. Neste exato momento da música, como o Onofre havia nos solicitado, só ele ficou cantando, imitando o som da metralhadora: "{Ratá-tá-tá-tá, tá-tá-tá-tá-tá}, {Tatá-tá-tá-tá, tá-tá-tá-tá-tá}, {Tatá-tá-tá-tá, tá-tá-tá-tá-tá} {Ratá-tá-tá-tá...}". Acontece que ele não parava mais com os {Ratá-tá-tá-tá, tá-tá-tá-tá-tá}, nós fazíamos sinal para ele parar, mas não adiantava, era só {Ratá-tá-tá-tá, tá-tá-tá-tá-tá...}. Não deu outra, começamos a rir e acabamos saindo do local correndo e o Onofre continuou com os {Ratá-tá-tá-tá, tá-tá-tá-tá-tá...}; estávamos já longe da casa e ainda ouvíamos os {Ratá-tá-tá-tá, tá-tá-tá-tá-tá...}.

Só nos encontramos depois com o Onofre a duas quadras de distância da casa de Rosana. Daí ele nos indagou o porquê que havíamos lhe deixado sozinho. Daí o Marcelo, com senso de humor, de imediato respondeu: “Mas homem você não parava com os {Ratá-tá-tá-tá, tá-tá-tá-tá-tá...}, você deu mais tiros do que a guerra do Vietnã, parece que queria ganhar a guerra a todo custo, gastou toda a munição da Companhia rsrsrs”. O Onofre então, em sinal de concordância, disse: “É verdade, exagerei mesmo nos "Ratá-tá-tá", acho que a culpa foi da cuba libre”. Rsrsrs. Bons tempos aqueles!