Máximas de Walter Galvão
O escritor Walter Galvão me presenteou sua derradeira obra, As Máximas de Marx, com um recado na orelha: “Este livro é um exercício lúdico para contato com a obra de Karl Marx”. Acreditei e deleitei-me, e mais ainda ao descobrir, na dedicatória, ter-me chamado de “amigo e pensador”. Logo a seguir, prometeu-me a “introdução ao multiverso do pensar crítico”, o que tanto falta, principalmente agora, ao nosso mundo político-ideológico, seja à esquerda, seja à direita, sem me referir aos que nada pensam, pouco pensam, e que se nutrem de fake-news, andando tão somente entregues a uma doentia campanha, como “bambus vazios”, movimentados pelo vento. Há coisas boas e válidas, ao mesmo tempo, tanto admiráveis aos marxistas, como também aos não-marxistas. Para dar um exemplo bem objetivo, digo: a Lua.
Quando morei em Paris, frequentava uma boa biblioteca pública, perto da Rue de Sèvres, onde procurava ler e ver pessoalmente Raymond Aron, filósofo e sociólogo, que sentava, diariamente, à mesa do lado, cheia de consultas aos livros desarrumadamente empilhados. Nesse mesmo livro de Walter, Aron sempre nos foi um mestre. E Walter inicia sua obra, advertindo-nos com a observação desse lúcido francês: “Uma das qualidades da obra de Marx é que ela pode ser explicada em cinco minutos, cinco horas, cinco anos ou meio século”. Galvão nos explica vários conceitos, num estilo claro e simples, no devido tempo, em que você consiga ler suas 134 páginas, servindo também de remédio a qualquer anti-marxista, que sofra de gastura, ao ouvir o “ismo” como seguinte da raiz “marx”. Não suporta sequer uma gota... Nesse aspecto, Walter é um corajoso, leu “Mein Kampf” e outras coisas mais, para depois saber ser crítico...
Pareceria água pura, cristalina, na qual uma gota de um reagente a transformaria em líquido fortemente cinzento, até completamente escurecê-la. O recipiente seria uma caixa craniana extremamente vedada, sem alguma fissura entre os parietais, frontais, temporais e occipital, tudo sai pela boca, mas nada entra pelos ouvidos, numa rejeição total por parte da massa acinzentada intolerante. E quem tiver ouvidos abertos é descriminado e catalogado. O inteligente Walter leu, leu muito, pensou e escreveu, afrontando a intolerância de quem nunca leu ou é leitor de um livro só... Na humanidade, há temporadas em que isso recrudesce, os recrudescidos se tornam extrema e radicalmente radicais.
O inexorável Walter Galvão pensou, refletiu e escreveu a palavra, assumiu a expressão já popular: “eu não vou mentir...”, reaja ou não o ergasiómaníaco, que certamente não engolirá nem as mínimas, quanto mais “as máximas”. É um assunto que pareceria árido, se não fosse um riacho límpido e construtivo, que supera qualquer gota poluente. Sempre gostei de conversar Filosofia com ele, e na última conversa, ele me cobrou uma crônica sobre o seu “modesto texto”, disse assim, antes de morrer, nesse triste sete de sete. Com tardança, é o que faço hoje, na esperança que o grande amigo leia este modesto comentário. Acredito que quem morre pode tudo, se não o faz, é por modéstia, o que não existe lá em cima; também porque, nos céus, vaidade é desnecessária. Foi assim que li As Máximas de Marx, que são sobretudo as máximas de Walter.
O escritor Walter Galvão me presenteou sua derradeira obra, As Máximas de Marx, com um recado na orelha: “Este livro é um exercício lúdico para contato com a obra de Karl Marx”. Acreditei e deleitei-me, e mais ainda ao descobrir, na dedicatória, ter-me chamado de “amigo e pensador”. Logo a seguir, prometeu-me a “introdução ao multiverso do pensar crítico”, o que tanto falta, principalmente agora, ao nosso mundo político-ideológico, seja à esquerda, seja à direita, sem me referir aos que nada pensam, pouco pensam, e que se nutrem de fake-news, andando tão somente entregues a uma doentia campanha, como “bambus vazios”, movimentados pelo vento. Há coisas boas e válidas, ao mesmo tempo, tanto admiráveis aos marxistas, como também aos não-marxistas. Para dar um exemplo bem objetivo, digo: a Lua.
Quando morei em Paris, frequentava uma boa biblioteca pública, perto da Rue de Sèvres, onde procurava ler e ver pessoalmente Raymond Aron, filósofo e sociólogo, que sentava, diariamente, à mesa do lado, cheia de consultas aos livros desarrumadamente empilhados. Nesse mesmo livro de Walter, Aron sempre nos foi um mestre. E Walter inicia sua obra, advertindo-nos com a observação desse lúcido francês: “Uma das qualidades da obra de Marx é que ela pode ser explicada em cinco minutos, cinco horas, cinco anos ou meio século”. Galvão nos explica vários conceitos, num estilo claro e simples, no devido tempo, em que você consiga ler suas 134 páginas, servindo também de remédio a qualquer anti-marxista, que sofra de gastura, ao ouvir o “ismo” como seguinte da raiz “marx”. Não suporta sequer uma gota... Nesse aspecto, Walter é um corajoso, leu “Mein Kampf” e outras coisas mais, para depois saber ser crítico...
Pareceria água pura, cristalina, na qual uma gota de um reagente a transformaria em líquido fortemente cinzento, até completamente escurecê-la. O recipiente seria uma caixa craniana extremamente vedada, sem alguma fissura entre os parietais, frontais, temporais e occipital, tudo sai pela boca, mas nada entra pelos ouvidos, numa rejeição total por parte da massa acinzentada intolerante. E quem tiver ouvidos abertos é descriminado e catalogado. O inteligente Walter leu, leu muito, pensou e escreveu, afrontando a intolerância de quem nunca leu ou é leitor de um livro só... Na humanidade, há temporadas em que isso recrudesce, os recrudescidos se tornam extrema e radicalmente radicais.
O inexorável Walter Galvão pensou, refletiu e escreveu a palavra, assumiu a expressão já popular: “eu não vou mentir...”, reaja ou não o ergasiómaníaco, que certamente não engolirá nem as mínimas, quanto mais “as máximas”. É um assunto que pareceria árido, se não fosse um riacho límpido e construtivo, que supera qualquer gota poluente. Sempre gostei de conversar Filosofia com ele, e na última conversa, ele me cobrou uma crônica sobre o seu “modesto texto”, disse assim, antes de morrer, nesse triste sete de sete. Com tardança, é o que faço hoje, na esperança que o grande amigo leia este modesto comentário. Acredito que quem morre pode tudo, se não o faz, é por modéstia, o que não existe lá em cima; também porque, nos céus, vaidade é desnecessária. Foi assim que li As Máximas de Marx, que são sobretudo as máximas de Walter.