Travessuras de Dois Adolescentes
Éramos uma grande família e respeitávamos os mais velhos como aos nossos pais. Certa noite, quando a cidade já dormia e suas ruas estavam desertas, eu e meu amigo Carlim resolvemos subverter a ordem da nossa pacata cidade do interior mineiro, extravasando nossa rebeldia adolescente com pequenas travessuras. Começamos invertendo as placas de trânsito; em seguida interditamos nossa rua com enormes pedras de uma construção que estavam amontoadas num canto da calçada. Concluída a interdição, seguimos andando em busca da próxima estripulia, quando encontramos um enorme caixote de compensado, embalagem de algum eletrodoméstico, na porta de uma das principais lojas de tecidos e eletrodomésticos da cidade e, sem titubear, já pegamos tal caixa e nos encaminhamos para a praça mais próxima que ostentava e ainda ostenta o busto em bronze do fundador da cidade, Coronel Idelfonso da Rocha Freitas. Resolvemos então encobrir o busto com a caixa. Depois do grande feito, saímos correndo às gargalhadas, achando muita graça da inusitada travessura, mas, de repente, fomos interrompidos por um grito que ecoou pelas ruas desertas: "parem meninos! Esperem aí!". Paramos de súbito assustados, procurando de onde vinha tal voz. Avistamos então um senhor vindo em nossa direção com algo reluzente em uma de suas mãos. Ficamos ainda mais assustados, porque pensamos se tratar de uma arma de fogo. Mas com a aproximação vimos se tratar dos óculos daquele senhor que ao nos alcançar deu início à preleção: "muito admiro vocês dois, filhos de duas das principais e tradicionais famílias da cidade, sairem por aí cometendo vandalismo, depredando patrimônio público, violando as leis e subvertendo a ordem e a paz da nossa pacata cidade. Desrespeitam a memória do fundador da cidade cuja estátua em sua homenagem se encontra na principal praça da cidade que fica bem diante do palacete da família de um de vocês. Cometem tais abusos sob os olhares eternos e atentos de nossos antepassados que deveriam descansar em paz no cemitério aqui ao lado. Se vocês consertarem o mal feito, prometo que não conto aos seus pais". Prontamente nos dispomos a corrigir o terrível erro e pedimos desculpas ao Sr. Antônio Pereira que ficou à distância conferindo se iríamos acatá-lo.
Era um tempo em que todos participavam da educação e formação de suas crianças e jovens. Aprendemos a lição e nunca mais voltamos a cometer tais delitos.