Meninos da Sé
A Praça da Sé – que adorável cartão postal, repleto de futuro perdido!
Todos os dias, cruzo a Sé no centro de São Paulo. Não o faço por diversão, se pudesse a evitaria.
Moro próximo da Praça do Carmo, a Sé separa minha casa do ponto de ônibus que me leva diariamente ao trabalho nas terras distantes de Santo Amaro. Já tentei ir pela Praça João Mendes; até já tentei ir pelo Pátio do Anchieta, mas a pressa e o relógio atrasado exigem que eu cruze a praça imunda de pobreza e não importa quantos cálculos mentais eu vá fazendo ou as ocupações que eu vá pré-pensando, sempre dou de cara com o descaso humano e vejo centenas de homens do futuro em cada criança descalça cheirando cola nos cantos ou tomando banho nas fontes públicas.
Não gosto de ver criança sem esperança de futuro, por isso evito a Praça da Sé sempre que posso e quando não consigo, atravesso-a como um fantasma; sem deixar rastros de olhar, nem pegadas de atenção e felizmente, ao contrário dos meninos da Sé, estou sempre de passagem, tenho para onde ir, e sigo ignorando, como todos os outros estão fazendo.
Frank Oliveira
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