EM LUA DE MEL COM A SOLIDÃO
Há tantos, mundo afora, em lua de mel com a solidão nesses difíceis tempos de indiferença, de dor e morte! A pandemia causando pavor, os abraços impossíveis de dar, os sorrisos somente distantes, o amor que não pode ser expresso em carinho por conta do distanciamento social, a solidariedade ainda tão ínfima não alcançando todos os necessitados, a vida sem intimidade amorosa. Idosos são esquecidos nos asilos, crianças proibidas de estudar, some para os jovens condições de explodir os próprios sonhos ou de expandir o fluir de seus anseios, o nada sabe a niilismo. Resta, então, a reclusão imposta pela necessidade de combater o inimigo comum a, hoje, infestar a humanidade, o esquecimento no quarto, o abandono à desesperança, o medo desvairado, até mesmo o anelo de desistir, de não prosseguir a jornada, de já não buscar o tempo perdido, de cair para não mais levantar, entregar-se à fatalidade, parar de lutar, posto que o horizonte vem se mostrando o mesmo ponto longínquo, a estrada tem se tornado íngreme, áspera, insuportável, os caminhos tortuosos. Vasta vicissitude! Por conseguinte, a solidão parece ser a única e estranha companhia, o notório desconsolo, a lua de mel desprovida de orgasmo.