UM PERDÃO JAMAIS ESPERADO

Menino pobre,  trabalhador e muito inteligente veio tentar  a vida na Capital. Ficava no porto, levava recados, fazia pequenos mandados sempre com rapidez e  muita atenção. Conquistava ,assim, a simpatia e a amizade dos senhores mais abastados que, nos momentos de folga, se reuniam para jogar Buraco. Desta maneira , convivia com a alta sociedade e fez amizade com pessoas influentes que, posteriormente,  lhe ajudariam a arranjar seu primeiro emprego.

Sempre trabalhando e estudando , veio a se tornar advogado e  a ser aprovado em concurso para o Banco do Brasil, onde trabalhou por muito tempo.

O tempo passou e as amizades continuaram. Agora os amigos se reuniam para conversar e jogar Buraco, sempre na casa de um deles. Apesar de não jogar , ele participava das reuniões pelo interesse nos diversos assuntos que eram discutidos.

Certa feita, esses amigos estavam contando fatos de suas vidas. Insistentemente , lhe veio à mente aquela imagem de tantos anos atrás. Lá ía ele, menino pobre, correndo pela calçada da estação ferroviária, até que, mais veloz, o trem desaparecia na curva da estrada de ferro.

Começou, então , a contar esta passagem de sua vida

Morando numa cidade do interior, vendia pés de moleque ( iguaria feita por sua mãe) para ajudar  no sustento da família.

Todos os dias, ele se dirigia à Estação Ferroviária, há mais de um quilômetro de sua casa e, quando o trem parava, ele começava a vender aos passageiros. Vendia e ía recebendo o dinheiro, antes que o trem começasse a partir.  Tudo era muito tranquilo até que um dia, exatamente aquele que nunca saiu de sua memória, ele entregou o pé de moleque a um rapaz que, em vez de lhe pagar, quando o trem deu sinal de partida , ele ficou sorrindo e segurando o dinheiro. À medida que a mão dele se aproximava , o rapaz  ía recolhendo o braço, de forma que ele não alcançasse o dinheiro. Enquanto isto, ele ía correndo, cada vez mais rápido, pela calçada da estação. O trem partia em disparada e sumiu na curva da estrada.

Humilhado, desolado,  sem sua mercadoria e sem o dinheiro , volta para casa, presta contas da venda do dia a sua mãe, e ela, como era o costume da época, lhe bate ,   porque  ele levou o prejuízo.

Continuava ele a contar este fato de sua vida e todos ouviam atentamente sua narrativa.

Enquanto isto, lágrimas caíam dos olhos e molhavam a face de um daqueles seus amigos que, ao final, lhe abraçou fortemente e lhe pediu perdão.

Fôra ele o autor daquela maldosa façanha para com aquela pobre criança.