O JOÃO DE BARRO.

Vozes que gritam pelas ruas e avenidas, braços que se levantam, gesticulando freneticamente enquanto as bocas escancaradas falam e falam com voz de trovão. 

Cada dia que passa, é um dia a mais de ódio com um a mais para odiar e ser odiado. Estes mesmos, junto a outros correligionários, organizam as suas passeatas. São vozes que gritam palavras de desordem aos desordeiros pelas ruas e avenidas. "Ele 'é', sim, ele 'é' sim..." mas você sabe o significado dessa palavra aí? Perguntou o moço. 'Não faço ideia', respondeu o manifestante continuando a gritar sem saber o significado da palavra gritada. Enfurecia-se cada vez mais, parecia fora de si, ao pronunciar o nome dele logo em seguida de dizer que ele 'é'. 

Estes mesmos que, em outras ocasiões, quebraram, desrespeitando o que para outros é considerado sagrado. De fato não compreendo tais atitudes. De nenhum dos lados, aliás, nem dos que dizem que ele 'é', tampouco daquele que solta palavras e mais palavras sem pensar. Xingamentos, contra acusações, acusadores sem fundamentos. Enfim, esse país está mesmo uma baderna generalizada. Difícil é compreender onde começa um erro e termina o outro, de ver com quem de fato está com a verdade, uma vez que, ambos os lados dizem serem possuidores da dita, 'verdade'. Mas, eu pergunto... O que é a verdade?

A política é mesmo um negócio complicado de se entender. Defender esse ou aquele, não importa, você estará certo para uns e errado para outros, independente do lado que você estiver, foi assim, é assim é sempre será. Acho mesmo que a essência da política se perdeu pelo caminho. " Se é que ela um dia esteve no caminho da sua própria essência", no entanto, vou pensar que sim, que a verdadeira política ainda exista, sabe lá Deus onde. Enquanto isso, o circo está solto, homens e mulheres, massas de manipulação soltas por aí. Fazendo por fazer, defendendo sem saber, tendo sem merecer.

Agora eu... Estou mesmo preocupado com o João de Barro... Veja que o espertinho fez sua casa na árvore de frente de casa. Faz tanto tempo que não vejo um João de Barro. De repente, em meio a gritos e falas exaltadas, ameaças e xingamentos, mãos levantadas que gesticulam, bandeiras de cores quentes, multicoloridas, encontro ele, essa preciosidade da natureza, em plena selva de concreto. Enquanto homens estão preocupados com esse 'é' aquele cara lá, o João de Barro apenas observava a muvuca preocupando-se unicamente com sua casinha. Vou seguir o exemplo do João de Barro, é ficar na minha, quietinho da janela da minha casa de Barro, apenas observando o circo passar. 

( A.L )

Alberto de Andrade Lispector. ( A.L )
Enviado por Tiago Macedo Pena em 04/07/2021
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