A chuva Rá'tá'tá'tá
Aqui estou mais um dia, sob o olhar 34 da vizinha. Ela não sabe o que é se embriagar todo dia com doses de chá. Tantos calos nos pés, e talvez uma caminhada vazia. Rá'tá'tá'tá.
De repentemente, há crianças na janela. "Uma esmola pelo amor de Deus." Rá'tá'tá'tá, e de repetemente o café esfriou, a novela findou, o céu escureceu, o frio aumentou, a noite caiu, a chuva chegou. Rá'tá'tá'tá, "Calce suas meias, menino!". "Mãe, minhas meias sumiram." "Ah meu Deus."
De repetemente, Deus sumiu. Rá'tá'tá'tá. De repetemente, minha vizinha escapuliu. Rá'tá'tá'tá. De repentemente, a chuva chegou. De repentemente, homem não é homem, e mulher desde sempre mistério. Vários tentaram, até Lúcifer. Eu também quero. Democracia já! Abaixo os dias de calor! Rá'tá'tá'tá!
Trago uma página e vejo o incêndio passar. "O dia está uma viagem", é sentença aberta ou fechada? Hoje não tem visita, não tem futebol. Mas, Rá'tá'tá'tá, essa gente de bem, apressada, satisfeita, católica quer festejar.
Deus está vendo? Segunda-feira está aí? De repentemente, tiram-se nove fora? Rá'tá'tá'tá, deixa o IML passar? Um dia a menos, um dia a mais tanto faz? De repentemente, Rá'tá'tá'tá, Paraisópolis?
Em algum lugar do inferno acontece. Metralhadora alemã ou de israel estraçalha sonhos como papel. A vida não tem tanto valor quanto um papelote de pó. Quantos já emigraram de Paraisópolis?
Hoje não tem visita, não tem futebol. Aqui estou menos um dia, sob o olhar 34 da vizinha. Ela acende um cigarro e ver o dia passar. Ação do tempo. Ela conhece o sistema. Sabe que aqui não existe santo, mas existem muitos catequizadores. Boa moça, moça boa. Quer salvar a lavoura. Rá'tá'tá'tá. Aqui estamos menos um dia, sob a chuva Rá'tá'tá'tá, sob os olhares de crianças à janela: "Uma esmola pelo amor de Deus."
De repetemente o café esfriou, a novela findou, o céu escureceu, o frio aumentou, a noite caiu, a chuva chegou. Rá'tá'tá'tá, de repentemente o sol aparece. Mas e minhas meias? Rá'tá'tá'tá, onde será que estão?