PONTE MOVEL

Iniciava mais uma ronda, na noite gelada, quando Pedro Paulo e Guaraci se dirigiam ao acesso a grande ponte sobre o rio Guaira, onde eles estariam de plantão, como policiais da Brigada Militar.

Lá já se encontravam seus colegas, os soldados Alcântara e Ruberval, ambos encapotados para enfrentar o frio daquele mês de junho..

O vento gélido era uma constante o que não permitia que, como de costume, se divertissem com as piadinhas do soldado Ruberval e seu eterno bom humor.

Acontece que Ruberval além de engraçado era também muito descuidado, pois foi nessa noite que sua desatenção passou dos limites.

Quando os quatro policiais já estavam posicionados na parte mais alta da ponte, Ruberval teve a ideia de entrar na pequena cabine de controle, distraído e com os dedos congelados, toca por descuido, o botão de içamento da parte móvel da ponte.

É grande o susto quando os policiais notam o Brigadiano subindo no vão móvel da ponte içada rumo aos céus da noite gelada..

Providências urgentes precisaram ser tomadas, os policiais se dividem: Guaraci e Alcântara, contatam com os superiores, embarcam na viatura e rumam na busca de auxílio e na localização do funcionário responsável pelo vão móvel da ponte. O trabalho requer urgência, mas o frio é maior, despertando nos policiais on desejo de desembarcar do veículo e ir correndo na busca do seu intento, aquecendo assim os corpos judiados pelo Minuano, o vento congelante do sul.

Enquanto isso, no meio da ponte Pedro Paulo encara a árdua tarefa de segurar o trânsito, onde motoristas sonolentos ansiam pelo retorno aos seus lares; onde caminhoneiros cansados necessitam da liberação para entregar as cargas dentro do prazo exigido..

O vento castiga o corpo do Brigadiano. Pedro Paulo, para acalento, pensa na família e no calor da casa quentinha que lhe espera, enquanto imagina como seu colega, o distraído Roberval estará no alto da ponte móvel e exposto a temperatura negativa, e a séria punição que receberá.

Pedro Paulo é retirado de seus pensamentos, quando avista o carro de mão puxado pelo "Seu"João, catador de lixo reciclável e usuário da ponte. O olhar do policial baixa e avista no interior do improvisado veículo uma garrafa de aguardente.

O frio terrível desperta no policial a necessidade do aquecimento que aquela garrafa taria, mas o reconhecimento do seu dever como policial fazem esses pensamentos serem substituídos, pela alegação de que "Seu"João estaria transportando um produto, que usado em trânsito, causaria uma grave infração e bebido em casa acarretaria discórdia e violência podendo até a polícia ter que interferir.

Nesse momento, um forte estalido sacode a ponte, sinal que o vão desce ao seu estado normal

Os olhos do policial e do carroceiro encontram se ao verem a garrafa quebrada e o líquido precioso

misturar-se as águas turvas do grande rio Guaíra...

CEIÇA
Enviado por CEIÇA em 01/07/2021
Reeditado em 02/07/2021
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