Heranças
Sem muito esforço passaram-lhe jeitos e hábitos. Olhava-se e lá estava o pai umas vezes, o avô, outras. Começou a sentir autonomia ainda jovem e não se parecia com ninguém. Não ter referências é mau em todos os aspectos, mas tê-las é uma cadeia que, vá onde vá, o homem tem de, forçosamente, regressar. Umas vezes fisicamente, outras apenas na lembrança. Olhava quieto sem olhar. Fazia-o o avô materno, esticava-se ao modo de seu pai, era emotivo como a sua mãe. Genes, diriam os doutos. Depois, sem perder nada, ganhou novos modos, caligrafia diferente, opinião que, antes, não tinha. Ainda traz consigo as raízes, ainda se podem ver características daqueles que o precederam. Morreu o pai que vive no filho, mudou tudo e, sem se dar conta, fez o mesmo que criticou a gente determinante da família. “Filho de peixe sabe nadar” é certo, mas alguns peixes que deveriam nadar só andam na água de um aquário onde um amor perverso os mantém.