Santuário de gigantes

Ontem entrei num santuário. No meu íntimo, pedi licença pra entrar. O lar dos idosos é para mim esse lugar sagrado, onde moram a sabedoria, o respeito, o amor, o temor, o sofrimento e a alegria. As pessoas que chamam esse chão de lar são como plantas arrancadas de outro chão, transplantadas para esse. Eu me sentei num sofá, aconchegada numa amiga, e fiquei observando cada um, absorvendo a beleza própria deles, aos seus 85, 95 e até mais anos de vida. Aos poucos, percebi que não era só uma espectadora, mas fazia parte do lugar, interagindo com eles, fazendo perguntas, entabulando conversas. Nem sempre havendo entendimento, mas isso não tem importância... Eu olhei para o céu azul e vi as nuvens passando... Disse-lhes que gostava de apreciar a beleza do céu e que as nuvens nos lembravam alguns bichos: olha lá o jacaré, olha! Aquela lá parece com o quê? E cutucava a imaginação da minha amiga e a minha também. Ríamos feito bobas... Os outros me olhavam curiosos, alguns com muita simpatia, outros com total indiferença, outros com desdém. Mas em todos vi dignidade. Mesmo sendo cuidados e até alimentados, havia neles autoridade. E isso encheu a cena de beleza! Vi ali gigantes de uma longa vida!