O raio que matou o ex-marido de minha ex-nora
Vou contar tudo certinho, senhor delegado.
O Vardo, meu filho - o nome dele é Nivardo -, mal completou 18 anos e se engabelou com uma mulher 20 anos mais velha e separada.
Perguntei: Vardo, o que deu nessa sua cabeça pra se envolver com uma mulher nessa situação? Mande essa mulher para o raio o parta. Falo assim ‘raio’, porque me acostumei com a mãe da minha comadre aqui em ‘Sun’ Paulo, que nasceu em Portugal. Então, quando fico nervosa falo assim.
No fundo do meu terreno o Vardo ergueu quatro paredes e lá vivia com aquele raio de mulher que nunca penteava a cabeleira cor de tijolo molhado. Para mim era sujeira. E com tatuagens de coração nos braços feitas com prego. Tinha até vergonha de contar que era minha nora...
História enrolada? Calma, doutor. Não gosto de causo mal contado. O Vardo trabalhava em um oficina de conserto de bicicleta, ganhava pouco. E o raio dessa mulher sempre querendo mais dinheiro.
30 dias atrás ela pegou sua trouxa e desapareceu. Nossa Senhora do Belo Monte... Não. Do Monte Alto... me atendeu.
Acontece que o ex-marido dela foi no trabalho do Vardo com a conversa que queria 500 cruzeiros por ele ter usado a ex-mulher dele. Indenização. Nunca ouvi falar de uma coisa assim... Ele tem esse direito, doutor? Se tramaram na luta e para se defender o Vardo, que é miudinho de corpo, bateu na cabeça do cujo com uma roda de bicicleta que tinha nas mãos.
Um raio se desprendeu da roda, rasgou a orelha e atingiu a veia do pescoço e ele morreu. Juntamos uns trocos e mandamos o Vardo para casa da minha mãe no Piauí.
- Em que cidade do Piauí?
- Não lembro o nome agora, doutor. Mas fica pros lados de Bonfim.
- Bonfim? Bom fim é que darei a esse processo. E quem não gostar um raio que o parta. Está dispensada, senhora.