CAROLINA, CAROLINA...

CAROLINA, CAROLINA...

"Não sei dormir sem ler. (...) O livro

é a melhor invenção do homem".

CAROLINA DE JESUS (in revista

"Intercâmbio", do SESC, 2013)

Acordei às 2 da madrugada desta gloriosa terça-feira, 29/junho, ainda vivo e bem graças a Deus, pois quando chega a velhice a sombra da "Maldita" passa a nos fazer companhia, "amiga' indesejada além de inevitável. Mas, não me sinto velho aos 68 anos, não mesmo... nem ando com insônia, dorme-se pouco a partir de certa idade. Sobra tempo no imenso silêncio que nos circunda -- antes do Tempo final, eterno -- para ler (?!) e ESCREVER. Continuo sem gostar de ler, mas confesso que nunca li tanto, agora 2 livros ao mesmo tempo, justo eu que acreditava ser algo impossível, embora alguém (Jô Soares ?) tenha declarado que lia 4 obras de uma só vez !

Esse breve texto é para os meus, meus parentes principalmente... também alguns amigos, os poucos que ainda me aturam, ainda me leem mesmo com sacrifício ! ESCREVAM... é o que lhes peço, pouco importa a qualidade técnica, o apuro gramatical, firulas literárias. Deixem para os seus algo mais do que palavras e seu exemplo, deixem gravadas suas Memórias da infância e juventude, as lembranças de seus pais e avós, os sonhos e anseios que os acalentaram. No Futuro alguém lerá, surpreso e maravilhado com esse aspecto de um antepassado. Ainda lembro de meu tio Joãozinho, rosto avermelhado pela "branquinha", escrevendo desesperadamente em folhas marrons usadas na época como papel de embrulho.

Agora descubro mais um escritor na família, além de mim e, claro, de meu irmão mais velho (que partiu em 2018), do qual li tão-somente breve recado para a filha recém-descoberta. Ah, tenho outra sobrinha, do irmão gêmeo, esta com tese de mestrado sobre o clima e geologia, ou algo assim... e toca flauta ! É o sangue dos Azevedo "espalhando-se" por aí ! E, nessa bela madrugada, 2 da manhã, resolvi ler revista do SESC nacional que trazia reportagem sobre a favelada CAROLINA MARIA DE JESUS, sobrenome esse de minha avó materna, nascida em Conceição do Mato Dentro, distrito de Mariana, INTERIOR de Minas Gerais... não, não sou tão ingênuo (ou leviano) de imaginar que todos os AZEVEDOs da Terra serão/seriam parentes meus ! Porém, a tal revista do SESC traz extensa análise sobre a obra da "favelada" (o que ela recusava ser) Carolina de Jesus e um dado importante... seu Diário virou livro que vendeu 80 MIL exemplares em 1950... e olha que livro não vende, no Brasil pelo menos, autores consagrados da época vendiam 5 mil. Pois achei nas páginas da "Intercâmbio" por duas vezes a referência crucial: "ela veio do interior de Minas" ! Era só o que eu precisava para "uní-la" à minha mãe, analfabeta, dona (Maria ?) Apolônia de Moraes, filha de Genoveva MARIA DE JESUS, essa também "do interior de Minas". É coincidência demais para mim, que nem creio nelas, TUDO me parece Destino, "está escrito", MACTUB declaram os árabes !

Eis que -- na curva do Destino -- o escritor carioca TOM FARIAS findou recentemente biografia sobre a literata Carolina de Jesus, bem alfabetizada e que se orgulhava de sua Cultura, "embora a visse BRANCA" (conclusão minha), enfiando aqui e ali no seu Diário "trechos claudicantes", tropeços propositais, a fim de relembrar (?!) ou reafirmar sua origem, seu fardo de pobre e ILETRADA. O autor de um expressivo ensaio sobre o livro "QUARTO DE DESPEJO", Rodrigo Cazes Costa (pags 72-86) a vê ESCRITORA completa, uma das primeiras do Brasil a transitar "entre o arcaico e o moderno", "ambos os dois" períodos (?!) além de feminista e despolitizada, embora seu livro servisse aos objetivos "de Esquerda" que nasciam justamente naqueles tempos, a tal "Cultura marginal" que desaguaria nos anos 60 da Tropicália e Ditadura, juntas e misturadas.

Onde os AZEVEDO entram nessa história ?! Respondo: há enormes chances de minha avó materna Genoveva e essa Carolina terem sido irmãs, ao menos PRIMAS ! Minha mão veio pro Rio aos 17 anos, portanto, 1930... Carolina estaria em São Paulo por volta de 1940, duas jovens sonhadoras vindas "do interior de Minas", talvez do mesmo lugarejo. Carolina estudou num bom colégio e, se a leitura a tornou a literata que era -- produziu romance e até peça de teatro, comenta o Autor -- pelo menos as primeiras letras aprendeu numa escola. Logo, irmãs não seriam, meu avô José Luís Coelho de Moraes (pai ou padrasto) não deixaria uma das filhas sem estudo. "Burra" minha mãe não era, tocava violão numa fábrica, mineira suponho, nunca me disse aonde !

Negro como Carolina e como Genoveva seria, o escritor TOM FARIAS propoz-se apresentar meu futuro livro de contos "...UM NOVO DIA HÁ DE CHEGAR "!, aceitando o fardo sem me conhecer, sem questionar meus atributos literários, sem procurar desculpas para recusar. Nesse novo dia que ora chega, como nos 4 BILHÕES de anos e dias anteriores, penso que realmente está chegando a hora de eu ter um livro, de preferência de bolso, de valor ao alcance dos mais pobres e sem as "amarras" desse Lei "de copyrigth" INDIGNA e ridícula, que me impede de CITAR sequer frases dessa revista, que abre suas páginas jurando querer... "DIFUNDIR reflexões, propostas, relatos", etc ! É MESMO ?! Pois não é o que parece !

"NATO" AZEVEDO (em 29/junho 2021, 4hs)

OBS: Carolina é homenageada em charmoso xote do "Rei do Baião" Luís Gonzaga e também por Chico Buarque... só desconheço se seria a nossa Carolina de Jesus !