Ode ao Caminho

Certa vez me encontrei só, na parte mais profunda e escura do oceano. Lá a luz não era percebida, no entanto, me recordei que em um passado distante já havia experimentado a clareza e o ar deliciosamente puro da superfície.

Não me esforcei para compreender o motivo pelo qual estava em tal lugar. Tudo que desejava profundamente era chegar à luz. Sentir novamente o ar puro. A verdadeira liberdade estava a metros ou talvez quilômetros distantes; assim como a vontade de continuar na escuridão.

Assim, livre de qualquer cálculo que houvesse a mínima possibilidade de desestimular-me, dispus-me a emergir com toda a força e recursos que pude utilizar, porém, no ritmo e tempo que a água e a pressão me permitiram.

Cada metro vencido dava a impressão que o peso do oceano era menor sobre mim e a certeza de que já enxergava de forma mais nítida o que de real me rodeava. Queria como num súbito estar sobre as águas, contemplar o sol e encher meus pulmões de ar, porém não sabia ao certo o tempo que passara sem experimentar estas sensações e percebi que o processo, apesar de constante, contínuo e linear, era lento.

Por vezes, a subida foi demasiadamente cansativa. Parava. Subia... Parava. Tornava a subir... O repouso foi frequentemente necessário, mas a fé na luz que pinava sobre mim e por momentos era sentida aquecendo a minha alma trouxe a renovação. Não uma. Não duas. Aliás, não sei quantas vezes me transformei quase que em um novo alguém, com nova disposição.

Cheguei. Luz. Arrr...

Miroz
Enviado por Miroz em 28/06/2021
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