Ciência e Fé à sombra da Figueira!
Nasci na Galileia, mais especificamente na pequena cidade de Caná da Galileia localizada cerca de 50 quilômetros a oeste do Mar da Galileia, em uma faixa mais desértica da região. Para quem pensa que a nossa aldeia não tinha tanta importância, convém afirmar que duas atividades comerciais a destacavam de outras pequenas cidades, ou seja, a atividade pesqueira e a produção de vinhos.
A primeira delas por conta da localização geográfica não tão distante do Mar da Galileia, conhecido pela abundância de cardumes da "Tristramella Sacra", uma espécie de Tilápia grande, posteriormente conhecida como "espécime de S. Pedro", talvez por causa da pesca maravilhosa de Pedro e outros pescadores que conseguiram arrastar em um único lançamento de redes, a quantidade prodigiosa de cento e cinquenta e três grandes peixes conforme registrada pelo apóstolo João ao escrever o seu relato sobre a vida de Jesus.
Por estar localizada na faixa mais desértica próxima ao Mar da Galileia, a nossa aldeia também desenvolveu a plantação de vinhedos e a produção de vinhos de excelente qualidade, exportados para outras regiões da terra de Israel.
Digo isso com muito orgulho, mas também reconheço que o bairrismo me tornou uma pessoa preconceituosa em relação a outras cidades pequenas ou médias localizadas na mesma macrorregião geográfica.
Embora galileu, a minha educação formal sempre esteve fundamentada no ensino e prática da Lei de Moisés e na Tradição religiosa dos judeus. Sempre me considerei um estudioso da Lei e dos profetas de Israel, a ponto de me interessar e me aprofundar na pesquisa e na esperança da manifestação do Messias de Israel.
Nessa condição, fui abordado pelo meu amigo Filipe que era natural de Betsaida da Galileia, relativamente próxima à minha cidade natal, quando ele me disse ter encontrado o Messias prometido, conforme escrito na Lei de Moisés.
Imaginem só a minha alegria quando ouvi dele esta informação, pois, afinal eu vinha estudando sobre a vinda do Messias há muito tempo. Muitas vezes, assentei-me debaixo da figueira plantada defronte a minha casa e, debaixo da sua sombra meditava no que seria a minha própria vida se, eventualmente, eu tivesse a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente. De igual forma, eu projetava na minha mente, como seria a reação do meu povo e da minha nação quando soubesse da manifestação visível e presencial do Messias.
Absorto em meus pensamentos, quase nem percebi quando Filipe o identificou pelo nome chamando-o de Jesus de Nazaré. Ao ouvir isso não consegui ocultar a minha frustração. Voltei-me para Filipe e lhe perguntei com absoluto descaso: "Pode alguma coisa boa vir de Nazaré?"
Sei que fui preconceituoso e até irônico com esse meu comportamento. Os anos seguintes haveriam de me ensinar a medir as palavras e nunca usar de preconceito com absolutamente ninguém. Nisso, tive o melhor Mestre para me ensinar e transformar a minha visão de mundo no relacionamento com as pessoas, meus semelhantes.
Diante da minha ironia, Filipe me convidou para irmos juntos até onde se encontrava Jesus de Nazaré e qual não foi a minha surpresa ao ouvir dele um elogio jamais recebido de ninguém. Disse Jesus a meu respeito: "Aqui está um verdadeiro israelita em quem não há falsidade; absolutamente autêntico." Perguntei-lhe de onde ele me conhecia e a sua resposta me surpreendeu: "Eu te vi, Natanael, debaixo da figueira antes que Filipe te chamasse."
Foi um momento mágico, transcendental. Ali estava eu diante de um desconhecido que me conhecia tão bem e, de repente, comecei a perceber que as Escrituras faziam bastante sentido para mim. Lembrei-me do que estava escrito na Torá e que dizia: "Levantarei um profeta como você do meio de seus irmãos israelitas e porei minhas palavras em sua boca, e ele dirá ao povo tudo que eu lhe ordenar."
Confesso a minha surpresa com as evidências daquele encontro, e como não poderia deixar de ser, maravilhado diante do Mestre que, pessoalmente, interpretava para mim o verdadeiro significado de ser Ele, o Autor das Escrituras. Como poderia eu imaginar que, estudando as Escrituras assentado debaixo da figueira, ali estava comigo o Mestre, bem presente na minha experiência mística?
Sim, eu sou Natanael, também conhecido por Bartolomeu e a partir daquele dia e daquele encontro a minha vida mudou completamente. Passei a andar com Jesus e a cada passo buscava conhecê-lo mais e melhor.
Alguns dias se passaram. Outros amigos se juntaram ao grupo e, num daqueles dias Jesus nos disse que iríamos todos a um casamento que aconteceria na minha cidade, Caná da Galileia, onde o Mestre iniciou o seu ministério público transformando água em vinho.
Ele não precisaria ter feito aquilo mas, tenho a convicção de que Ele o fez para demonstrar também para mim que o preconceito é inimigo da verdade e que, por causa do preconceito muitas são as pessoas que desprezam as oportunidades de se verem livres das cadeias que os prendem ao obscurantismo e à imposição do silêncio.
Ao final desse meu depoimento, é preciso reconhecer e retirar a minha expressão irônica dirigida ao meu amigo Filipe: "De Nazaré pode, sim, vir algo de bom!" portanto, apresento aos habitantes de Nazaré as minhas sinceras desculpas.
Mas, e quanto a você? Permita-me dizer que, por experiência própria, na mesma proporção que as pessoas aprofundam o seu conhecimento e constróem o seu castelo de ciência com fundamento no racionalismo e na sabedoria humana, este mesmo conhecimento pode afastá-lo da experiência mística com o Filho de Deus cujo fundamento é a fé espontânea na sua existência.
Não permita que o preconceito te afaste do Evangelho de Jesus que, sendo rico se fez pobre deixando a Sua glória com o Pai a fim de aproximar o ser humano do seu Criador, lugar de onde a humanidade jamais deveria ter saído.
Conheça a Jesus, intencionalmente. Aprofunde-se no conhecimento do Salvador e, sem preconceito algum, abrace a Fé que não exclui a Ciência ou o conhecimento, ao contrário, ambos se completam porque provém da Eternidade.
Deus te abençoe!
Pr. Oniel Prado
Inverno de 2021
27/06/2021
Brasília, DF