Fome Zero de Betinho
É evidente que quando pedimos em nome de uma instituição vale mais que quando pedimos no nosso próprio nome, como cidadão. Por ocasião do lançamento do Fome Zero pelo sociólogo Betinho, eu ocupava um cargo de certa representavidade, numa pequena cidade do agreste alagoano. Por isso, conseguia angariar doações de gêneros alimentícios, principalmente os não perecíveis em curto prazo.
Fazia a distribuição, seguindo um princípio bíblico que já ouvia de minha mãe: "dai com a mão direita, sem que esquerda veja." Ou seja, não para mostrar aos outros que é caridoso. Não chamar a televisão para exibir seu gesto, sob o pretexto de ser "bonzinho."
Felizmente, no meu cargo, não precisava fazer média política. Mesmo assim, ao participar de uma reunião, apenas sobre a logística da distribuição daqueles alimentos, no dia seguinte já havia especulações sobre minha postura: "será que ele tem pretensões políticas?"
E eu, que também já seguia a orientação da minha avó - "quem anda na terra alheia pisa no chão devagar" - tive de dizer que jamais tive pretensões políticas, pois, na minha função me sentia mais tranquilo, aquela que me propiciou uma serena aposentadoria. Hoje, sinto-me muito bem em ser o cidadão e não o representante administrativo de uma instituição, cujo cargo é efêmero. Sou o Irineu Gomes, amante do Recanto das Letras.