Silêncios
Tudo o que não digo anda-me à solta por dentro. As palavras que muitos pensariam presas brincam às frases, formam-se erradas por prazer, permutam letras no intervalo da disciplina e das regras gramaticais. Cada pensamento é escrito em palavras que chegam à boca e, medrosas, voltam à origem sem se dizerem. Seriam gritadas muitas vezes ou, pontualmente, sussurradas como promessas de amor. Quero-as assim, prudentes, ainda que em excesso, quero-as escritas na água ou no vento, pelo meu dedo na palma da tua mão. E calo-me. Sou de meu natural um homem de silêncios. Digo tudo com os olhos e, se for escuro, há coisas na minha pele, vozes mínimas na boca, poemas que aparecem se me queres, nus ou mal vestidos mas alegres por seres tu a sua festa.