EM CARNE VIVA
Despir-se sempre será o grandioso problema entre as pessoas. Normalmente os indivíduos se vestem em roupas requintadas para esconder sua crueldade. Alguns se abrigam em roupas bem comportadas para esconder o vazio interno cheio de nuances cavernosas. De repente o choque futuro despedaça a esperança que voava no céu aberto sem o intuito real da suavidade. Esmaga-se ossos, abate-se entrelinhas, e, por conseguinte, desmonta-se a pele desse corpo machucado.
Quando os olhares começam sessões de enfrentamento, os resquícios entreabertos despojados em doces melancólicas paixões retesadas, se entregam na torrente intensa sem proteção externa. É o encontro tenso entre o Eu real e a consciência. Jamais entraria outra pessoa nesse contexto tão pessoal, aterrorizante, mas, tão sublime ao ponto de ressignificar toda questão norteadora da façanhosa vida. Jaz nas entranhas tantas mentiras sociais. E sim, por algum motivo, esquecemos nossas mentiras vis.
O processo é doloroso. Descobrir-se da mesma forma como o mundo nos descobriu. O universo fabricou nossas reticências, sem mais nem menos, e entre esmiuçadas palavras lançadas ao acaso, sobramos felizes dançando a eterna dança dos olhares imersos nas nossas profundezas obscuras. Nossa natureza é tão complexa ao ponto de nos perder durante o caminho. Bebe-se tanta água de cachoeiras cristalinas, oh mera tolice abstrata. Sou tão veemente a ponto de me afogar no oceano das minhas vísceras. Sou tão fraco por negar minhas potencialidades.
Estar despido é compreender, acima de tudo, tamanhas loucuras secretas da alma. A essência cuja natureza desconhecemos, entretanto, sentimos pulsar nos caminhos cintilantes de nossas veias. Abrir-se ao mundo é doloroso, cruel, impensável e libertador, de certo modo, afinal de contas, estaremos suportando o peso imenso levado pela tortura adocicada do transcorrer. É muito mais que tirar as vestes, é, sobretudo, abrir os portões inacessíveis das partes fragmentadas mais secretas de cada um de nós.