À lógica de vovó
Comprei um livro de RLM, espesso e metafísico, como é de se esperar. Vovó, que desde sempre me alertava sobre a falta de lógica do mundo, estaria besta diante dessa aquisição minha.
Eu mesmo confesso, vovó, que estou besta comigo mesmo. Às vezes, vovó, para materializar esse assombro, eu o traduzo em um "Pqp! Como estou me afastando de mim mesmo!". E logicamente para pior, vovó. Perdoai-me.
Desde cedo, diante das minhas evidentes perguntas despropositadas, tu já me alertavas para minha ignorância em relação à lógica que domina o mundo. Lembro-me de uma vez em que te perguntei por que o céu é azul, e tu me disseste que é porque é obra de Deus. Eu quis saber quem era Deus, e tu me disseste que é o todo-poderoso. Olhei mais uma vez para o céu e fiquei ainda mais impressionado com o belo retrato que o todo-poderoso criou e, em seguida, quis saber se o autor era homem ou mulher.
Você, vovó, com ar de zangada, me disse que era Deus, e ponto final. Eu, em meio a toda aquela belezura, decidi forçosamente parar de fazer perguntas e aceitar a lógica que tu me havias apresentado.
Hoje abro este calhamaço de lógica, vovó. Abro-o e, logo nas primeiras páginas, sou apresentado ao tópico dedicado às proposições. Pois, vovó, vosmiçe sabe o que é uma proposição? Eu, vovó, pensei que tinha aprendido, nas aulas de português, o conceito de preposição. Mas, vovó, contínuo o mesmo ignorante de sempre. Pois eu não sabia que a definição que a língua portuguesa dá ao termo é diferente da de raciocínio lógico.
Vovó, aprendi, nas aulas de língua portuguesa, que expressões como "Que céu azul!", "Eu te amo!" "Cadê Lázaro?", "Lázaro, apareça." são exemplos fidedignos de proposições. Pois, vovó, aprendi errado. Ou uma banda do todo. Pois, sabia que, em tratando-se de raciocínio lógico matemático, essas expressões exclamativas, interrogativas, imperativas, não são exemplo de proposição?
Pois é, vovó, eu também não sabia. Mas agora, agora que estou me enveredando nas páginas deste espesso e metafísico livro de raciocínio lógico matemático, começo a ver alguma lógica na resposta que me deste a respeito do gênero do todo-poderoso. Pois, vovó, segundo a tabela-verdade do "se então", duas mentiras podem, sim, converter-se em verdade. E isso me traz, ao ver um céu azulado como está o de hoje, certo conforto e maior admiração aos artistas invisíveis do mundo.