E o amor existe?
“E o amor existe?”, perguntei para minha amiga. Sempre que nos reunimos, na casa dela, bebemos uma ou duas garrafas de vinho e contamos os últimos acontecimentos da nossa vida, sobretudo as nossas desventuras amorosas. Nossos amores nunca dão nada, porque ela tem o dedo podre para escolha de homens e eu tenho medo de me apaixonar. Mas, a gente ri muito sobre os flertes, rolos e amores mal sucedidos. Tudo isso ao som de músicas de sofrência e a boa e velha MPB.
Eu gosto de conversar com a minha amiga, porque mesmo com todos os motivos para desistir do amor, ela segue acreditando que vale a pena amar e ser amada. Eu queria ter a coragem que ela tem. Acreditar que posso ser amada assim. Mas, para mim, o amor parece tão distante, tão preso aos livros, as palavras que escrevo, tão longe da minha realidade. O amor me assusta em um grau que não consigo entender. Ao menor sinal de interesse de alguém por mim, eu fujo para as montanhas. Todavia, eu sei o que é o amor. Eu já me apaixonei perdidamente, um dia. Não deu certo e tá tudo bem. Nem por isso foi menos bonito o sentimento.
Repito a minha pergunta: “E o amor existe?”.
Ela deu risada e logo após um gole de vinho, diz: “Será? Eu não sei. Eu ainda acredito nesse danado. O amor é tudo o que almejamos. Mas está difícil crer que ele exista aos montes por aí. As pessoas não sabem amar. Elas estão perdidas. O amor não é para os fracos, ainda mais hoje, que a moda é ser durão e praticar o desapego. As pessoas querem atração e paixão, mas... amor, amor mesmo, eu não sei... não sei. Eu quero acreditar que sim. Se não, nada faz sentido. E eu estou louca.”
Fiquei alguns minutos sem dizer nada, apenas bebendo da segunda garrafa de vinho que estava no final, absorvendo suas palavras. Faz muito sentido. O amor verdadeiro ainda existe. Eu preciso acreditar que ele existe. Mas não externalizo o que penso. Guardo para mim.
Após o meu silêncio, sinto-a me observando.
“E você?”, ela me olhou nos olhos e perguntou, após virar o último gole de vinho da sua taça.
“Eu? ... Eu o quê?”
“Acredita no amor?”, ela continuou a perguntar.
Olhando-a nos olhos, estudando o seu rosto, eu dou um sorriso de canto, analisando a sua pergunta. Todavia, eu preferi não respondê-la.
Inspirei profundamente e falei: “Vamos comprar outra garrafa de vinho.”
(Você acredita no amor?)