O cheiro atiça nossos sentidos, nos leva ao passado, a lugares resgatando lembranças deliciosas ou simplesmente nos lembra alguém. O perfume que a dama da noite exala me faz voltar a infância na casa da minha avó. Eu dormia no sofá sentindo esse cheiro.
         Nunca gostei de usar perfumes que todos usavam. Sempre achei o cheiro algo muito pessoal. Odiava quando estava em algum lugar e sentia meu cheiro em outra pessoa. Eu desejava um cheiro apenas meu, que avisasse as pessoas que eu estava chegando, tornando-me inconfundível e único. Uma vaidade? Talvez.
          O acaso, um erro que cometi, fez-me conseguir meu próprio cheiro. Estava me preparando para ir a uma festa e antes de vestir a roupa esborrifei um perfume em mim. Quando estava saindo resolvi retocar o perfume e na pressa esborrifei outro perfume misturando os cheiros. Soltei um palavrão com raiva mas como estava atrasado fui para a noite. Na festa todas as pessoas que eu abraçava me perguntavam que perfume eu estava usando. É delicioso, diziam. Me cheirei e percebi que tinha descoberto o meu cheiro que uso até hoje.
          Quais os perfumes que eu misturo? Não digo nem sob tortura. O cheiro é meu e só meu. Quem quiser que crie o seu.
José Raimundo Marques
Enviado por José Raimundo Marques em 24/06/2021
Código do texto: T7285925
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.