A Cauda Da Salamadra

Reza a lenda que na Idade da Pedra era o mais forte da tribo que vencia as disputas e conseguia ter sucesso assim, eram os instintos que predominavam e os mais fracos se curvavam por temor. Creio que isso é pura “fake news”, pois na base do primitivismo e selvageria os homens não teriam aprendido a fazer fogo, forjar ferramentas, inventado a roda para facilitar os trabalhos muito menos criado símbolos rupestres para registrar seu mundo através da escrita. Não pretendo analisar épocas históricas, pois seria um tema bastante tedioso para uma crônica, mas sim demonstrar que a inteligência sempre foi e será o lado mais pesado da balança mesmo que às vezes assim não pareça.

Vejam bem que em uma passagem bíblica Davi venceu o gigante Golias usando apenas um estilingue e sua perspicácia assim como todos os notórios cérebros da Humanidade foram capazes de enormes proezas sem apelar para a força bruta. Os líderes que apelaram para armas e confronto físico para subjugar povos não podem ser considerados grandes estrategistas, são ególatras com objetivos escusos e altos índices de rejeição entre seus liderados. Outro exemplo muito ilustrativo é o famoso Cavalo de Troia da mitologia grega que sorrateiramente fez com que os gregos derrotassem os troianos iludindo-os e ridicularizando-os. Tanto que em pleno Século XXI essa manobra ainda batiza um vírus de computação poderoso capaz de roubar dados pessoais deixando suas vítimas em maus lençóis. Lembrando ainda que os nerds geralmente têm o estereótipo de pessoas frágeis mas com uma potência intelectual capaz de botar muitos pseudoespertos no bolso num piscar de olhos.

É claro como água que o mundo não pertence àqueles irracionais tresloucados afeitos a imposições e opiniões pétreas. Só é possível comandar bem a própria vida até nações inteiras com maleabilidade e adaptação. Essa é a inteligência genuína como há muitos anos o físico britânico Stephen Hawkins já preconizava, justamente a capacidade de adaptar-se à mudança.

Sem explorar essa capacidade o ser não evolui muito menos regenera suas feridas físicas e emocionais. Que o diga quem nasceu em terras tupiniquins e diariamente dá nó em pingo d’água para se esquivar dos perigos e dificuldades que crescem exponencialmente. Como diz o ditado popular é preciso ser “de circo” para viver aqui com todos os desenganos e obstáculos existentes.

E o título da crônica, como fica? Bem, o mundo animal, nada irracional nem inferior ao humano, fornece fartos exemplos sobre como deveríamos ser e agir desde a organização das formigas, do bicho da seda, das colmeias, do voo em bando das aves e muito além, mas há o curiosíssimo fato de alguns animais, a exemplo dos anfíbios (mas há outros), serem capazes de se autorregenerarem em caso da perda de um membro, órgão ou tecido como acontece com a salamandra.

Esse bicho é um caso à parte porque seu simbolismo data da antiguidade expressando justiça e paz interior como também foi tomado por empréstimo pela psicanálise representando a transcendência de obstáculos pessoais ou, na expressão da moda, resiliência. Enfrenta o fogo sem se queimar porque possui a pele fria podendo até mesmo extingui-lo, já enalteciam os egípcios há milênios. Uma salamandra que sofre um ataque, perde sua cauda e em poucas semanas exibe outra novíssima e intacta é um fenômeno para todos se espelharem metaforicamente e servir de incentivo para jamais desistirem do jogo. É preferível e aconselhável a reconstrução interna raciocinada e desta forma moldar-se aos contratempos já que munido das ferramentas adequadas ninguém se interporá entre você e seu sonho. E nunca perca de vista que mágica só existe nos contos de fadas, mas nossos desafios serão certamente vencidos usando a inteligência emocional com um empurrãozinho da mesma natureza que ajuda a salamandra.

NilzaFreire
Enviado por NilzaFreire em 24/06/2021
Reeditado em 26/06/2021
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