Crônica das Escolhas
Escolhas são uma constante em nossa rotina antes mesmo de nos apercebermos como gente, na tenra idade. Sabemos que não devemos encostar no fogão, puxar o rabo do gato, comer massinha de modelar ou riscar as paredes da casa com lápis de cera pois podemos nos machucar ou ficarmos de castigo. Da mesma forma sabemos exatamente o que fazer para parecermos adoráveis e agradarmos os mais velhos a fim de obter afetos e presentinhos. Embora essas experiências, assim como inúmeras outras, façam parte da infância e algumas sejam totalmente instintivas, acabam por moldar nossa personalidade e desenvolver nosso senso crítico, o que é bastante edificante para um jovem. Existe sim um componente genético, tendências e freios morais, mas não são inarredáveis, a vontade própria é que comandará o nosso caminho diante das encruzilhadas da vida.
Aí a gente vai crescendo, descobrindo-se, enquanto o leque de escolhas vai se ampliando junto conosco, seja através do sabor preferido de sorvete, da matéria com a qual sentimos mais afinidade na escola, do estilo de roupas que gostamos de vestir até a seleção das nossas companhias. É tão lógico que todas as escolhas visam doar um colorido todo especial às nossas vidas e nos ajudam a sermos únicos no mundo exatamente como as impressões digitais que possuímos. Somos um complexo amálgama que o mais talentoso dos invejosos será incapaz de copiar por mais que tente reproduzir nosso jeito e até invada nosso smartphone e redes sociais. O resultado não passará de um clone mambembe. No meu entender, apesar de sermos um pequenino grão de areia diante da grandeza do Universo, não existe outro grão idêntico a nós.
Diariamente abrimos os olhos e tudo que escolhemos está lá desde o chinelo, a marca de creme dental e escova passando pelo traje que iremos usar, sapatos, rota escolhida para chegar ao trabalho, cardápio do almoço, músicas na playlist, tipo de esporte praticado e a lista continua até o apagar das luzes para dormir. Incontáveis pequenas decisões conscientes ou automatizadas são tomadas a todo instante e isso é muito salutar, inclusive o exercício da caridade e da empatia que também nos alimenta e energiza.
Tem gente que coloca a culpa do eventual insucesso no destino, no trânsito, no signo, no clima, no seu namorado ou ex-namorado, no seu sangue latino ou até na criação recebida de seus pais, porém em seu íntimo sabe que ele próprio é o responsável por cada ínfimo detalhe do que lhe acontece (a colheita do que se planta é inevitável) por uma razão simples e definitiva: O livre-arbítrio. Se você não tem um trabuco apontado em sua direção sinto informar que nada lhe obriga a optar por coisa alguma, você faz porque quer ou porque não aprendeu a fazer de outra forma.
Há que se tentar muito e sempre até aperfeiçoar as escolhas da melhor maneira que funcione em consonância com a vida que se almeja ter. E como já dizia o genial cientista Thomas Edison: “Nossa maior fraqueza está em desistir. O caminho mais certo de vencer é tentar mais uma vez." O inventor não poderia estar mais certo e a assertiva conduz a outra teoria, a de que a sorte é muito relativa. Geralmente o “sortudo” é um sujeito que perseguiu seus objetivos incessantemente até realizá-los com toneladas de empenho e dedicação, caindo e levantando, errando e se aperfeiçoando, decerto que não foi no doce embalo da rede na varanda. Tem também quem insista nas escolhas tortas e, depois de causar danos severos a outrem, acabe vendo o Sol nascer quadrado em última hipótese, pois há limites e leis. Não esqueçamos todavia do camarada que não é criminoso, mas sempre escolhe ser o mais desagradável que puder, é o famoso sem-noção, inconveniente, do qual todo mundo quer manter distância.
Por fim afirmo que enquanto houver saúde e vontade o homem será capaz de grandiosas conquistas como também de estrondosos desastres porque a mente não tem limites e o mundo é vasto. Não há idoso que não possa aprender tudo que quiser nem nada que impeça um jovem de ser o professor desse idoso. São apenas escolhas.