O imediato
Nunca tive problemas com o imediato do rebocador Tridente. Detestado por todos, praças e oficiais, aquele tocava a rotina do navio com mão de ferro. A grande maioria tinha medo de sua altiva figura, não suportava incompetência e falta de reverência. Tive oportunidade de ver, diversas vezes, impor – se perante qualquer infrator. Certa feita, o navio atracou após uma viagem de socorro a um barco pesqueiro que se perdeu em alto-mar à deriva e sem comunicação. Fomos num resgate até encontrarmos a embarcação, o rebocador com a metade de seu contingente. Éramos um navio de socorro em serviço na jurisdição do 1º DN e o embarque foi feito às pressas, para zarparmos e procurar os pescadores. Após o resgate, que durou uma semana, emendamos com uma comissão. Fomos a Santos e depois à área do 5º Distrito Naval, para patrulharmos o litoral da região Sul.
Foi penoso. A escala de serviço reduzida e comida racionada, pois nosso almoxarife (na Marinha denominado paioleiro) havia ficado em terra. Com a despensa trancada, a tripulação ficou em regime de guerra, racionando a comida. Após esse regime de exceção, em que, além de todos esses problemas tivemos de testemunhar o rebocador em alto mar ficar apagado horas a fio, com o pessoal das maquinas trabalhando muito dia e noite nos motores, até superarmos aquele imprevisto desafio. Todos estávamos estressados e com os nervos à flor da pele, só mesmo o preparo feito nas Escolas de Aprendizes- Marinheiros nos garantia sabedoria e paciência. Na certeza de que aquilo era passageiro e ao fim daríamos boas risadas.
Enfim chegou a hora de voltarmos e desfrutar de um fim de semana, após a baldeação. Pois na segunda, o contra mestre de serviço, o cabo Antunes, acompanhado do marinheiro Campos, seu auxiliar, estava contando uma situação hilária por que passou. O boy expressou – se com uma sonora gargalhada, dizendo que seu interlocutor era “burro demais” – o imediato ouviu.
- Cabo, que significa isso? Outra dessa e vai para o livro de castigo!