_________Doce de Rapadura
Na travessia da tarde, proseio com o Seu Zico, um Senhorzinho que é um doce. E não é que ele nasceu no Doce? — hoje Moema, cidade aqui pertinho da minha. Seu Zico me conta que o nome Doce é por causa de certo carro de boi carregado de rapaduras, que num resvalo infeliz tombou no riachinho que margeava o lugarejo. Daí, que as águas do tal corguinho viraram pura rapadura se derretendo... Pronto! O lugar virou Doce. E penso: Ô meu Deus, por que inventaram de trocar por outro, um nome assim tão bonito? Mas meu pensamento voa mesmo é para o doce de rapadura. Pois existe então esse doce? Existe. Na casa de Dona Izalta, lá no lugar em que nasci — que também tem suas doçuras — aquele doce em pedacinhos era o néctar dos deuses. Leite com rapadura fervendo em fogo brando até apurar. Em ponto de puxa, era hora de bater. E bater supunha delícia para os olhos antes mesmo que a boca provasse. Se a massa corria lisa, temperada na espessura, era deitar na tábua de madeira, salpicada de farinha fina de mandioca. Esfriou, faltava só cortar em losangos macios e morenos. E comer? Até pedir uma caneca d'água fria! Aquele era o doce de rapadura, feito em tacho de cobre, na trempe do fogão a lenha — um doce que só de pensar, dá vontade de pedir: Conta mais um causo daqueles tempos antigos do Doce, Seu Zico...
Tema da Semana: Livre