PERSPECTIVAS DOS TEMPOS
PERSPECTIVAS DOS TEMPOS
Conto os dias. Olho o calendário. Não sei viver sem a sina do tempo – feliz ou infelizmente. Quando saio sem o relógio no pulso, sinto-me anacrônico. Tenho hora pra comer, estudar, dormir. Vivo entre breves e longas histórias, mas não quero ter a vida encurtada, talvez por isso que exijo de mim os horários – é um jeito de reorganizar minhas solidões.
O estacionário amedronta-me. Em mim as estações não devem estacionar – passo, fico, presencio e futuro. Quero descobrir mais razões para o movimento. Meus desejos divinos e humanos. Será que tudo que cabe nas minhas “mãos” tem espaço no meu coração? E vice-versa. Modifico a lógica; lugar de revelação é na poesia. Onde carne se faz verbo e sacia nosso cerne.
Não sei se o passado existe, mas o presente me embala, com o seu gatilho, com sua mola propulsora. Com a sua ânsia de ser agora. Devo encarar minha sofreguidão como virtude. Ambição boa que me faz buscar o que acho que me pertence, que mereço. Por que declarar fidelidade àquilo, o qual ainda não foi conquistado? Ir com muita sede ao “pote”, enjoa, ou dá mais sede?
O hoje é sacramental. Amanhã é sigilo. Ontem é digestório. Cremos no mistério – através dele fazemos os planos. É sábado, porém planejo a segunda-feira. Transubstancio o material para a festa. Sinto a espera: é a melhor parte.
“Raduan Nassar – no seu livro: “Lavoura Arcaica” diz: “O tempo é o maior tesouro que o homem pode dispor; embora inconsumível, o tempo é o nosso melhor alimento” Concordo. No entanto, são poucos os que sabem se alimentar.
Há duas formas de caracterizar o tempo: Cronos que está relacionado ao tempo do relógio. Um compromisso que devo cumprir. E o Kairos, que é o tempo divino, onde um fato já se tem encerrado exteriormente, ou seja, no mundo concreto, mas o acontecimento continua dentro de nós. Um bom exemplo é a saudade.
Percebo o quanto a vida é; breve quando se vive e longa quando se espera. Todavia, alguém disse que: “A espera é operante”. Deve ser porque, enquanto esperamos vamos edificando o presente e o “agora” só será bem vivido se nos reconciliarmos com o passado, então o futuro não será de plástico, mas, sobretudo bem gestado.
Vamos! Vamos! Nós que, quanto mais contamos nossas histórias, mais nos assumimos como artesãos do feito, do fazendo e do fazer.