O Não

Ao chegar ao Rio de Janeiro proveniente da Escola de Aprendizes Marinheiros do Ceará demorei um pouco, juntos com outros marujos de lá, a ser movimentado. Foram necessários dois dias para que eu viesse a saber qual seria minha primeira Organização Militar. Como eu, outra parcela de minha turma designada para o Primeiro Distrito Naval, só veio a sabé-lo no cabo do expediente. A princípio, ficamos lotados no Grupamento Naval do Sudeste, em frente ao cais de Portuguesa, onde ficam os rebocadores de alto-mar: Tridente, Tritão,Triunfo e Alte Guilhobel.

À noite, após arrumar umas coisas no armário e colocar minhas roupas (quer de andaina quer paisanas) aproveitei uns poucos trocados na carteira e comprei um sanduíche com batatas fritas e refrigerante no Mac Donald’s de avenida Rio Branco na praça Mauá. Daí, alimentado, resolvi explorar minha terra natal e fui a Niterói de barca. Desembarquei na praça Arariboia, do outro da Baía de Guanabara, atrás da travessa dos Lassalistas em Icaraí, de frente ao Instituto Abel. A condução me deixou praticamente na porta e procurei por Cícero e Silvana. O casal, nordestino de origem, dera anos antes hospedagem para meu pai, a mim e minha mamãe. Naquela época, papai viera fazer o curso de sargento. Oriundo de Brasília, onde servia, ele iria receber essa ajuda. Ficamos eu e mamãe, uma semana, até a formatura. O curso foi no Quartel de Marinheiros (se não me falhe a memória) e a conclusão numa Oms de fuzileiros navais da Ilha do Governador.

Achei o prédio e perguntei ao porteiro por aqueles. O funcionário da portaria, após confirmar que era ali, ligou o interfone e a Silvana atendeu. Esta me permitiu subir ao apartamento, após o guarda portão citar o nome de meu pai. Fui bem recepcionado, no entanto, ao pedir guarida, explicando minha situação, recebi um diplomático e incisivo “não”. O casal disse-me que, apesar da amizade por minha família (gostavam muitíssimo de meus pais), tinha uma filha da minha idade, dezoito anos, minha presença, além de tirar a privacidade de todos, constrangeria a jovem, mesmo que por um período curto que fosse. Saí desanimado: era a primeira vez que lidava com um “não”, entre vários que receberia pela a vida a fora.

Moysés Severo
Enviado por Moysés Severo em 21/06/2021
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