Tira a capa, Benedito!
Magno Petrus, azevinhado a ponto de na escuridão só se virem o branco dos olhos, a arcada dentaria (perfeita e alva com a lua cheia), as palmas das mãos e as unhas, foi apelidado pelos colegas de pelotão de Benedito. Carioca, nascido e criado no morro da Serrinha, veio compor a turma da Escola de Aprendizes do Ceará com seus conterrâneos após todo o rígido processo de seleção.
Para os colegas do Ceará, era um tipo exótico. Sua epiderme retinta e escura, reluzia à luz do sol e chamou a atenção de Guaracy. O jovem franzino, fortalezense do bairro da Parquelândia, não satisfeito em apelidar Petrus, zombeteiro, não perdeu a oportunidade de implicar com o negro: Fez uma analogia com a capa de chuva da andaina utilizada na Marinha. E começou a fazer a guerra com o companheiro: preto e retinto.
Quando este passava, Guaracy gritava e era acompanhado pelos colegas do Ceará, a princípio:
- Tira a capa, Benedito! – M. Petrus ficava de briga e xingava a todos, sem exceção.
A guerra chegou aos ouvidos do supervisor de pelotão, o cabo fuzileiro naval corneteiro Oriosvaldo, que não pôde deixar de achar graça. O único conselho ao ofendido foi o seguinte:
- Deixa, isto vai passar! Mas, ao contrário de suas previsões, a guerra espalhou – não só entre os alunos, mas também entre os praças e os oficiais.
- Petrus, eu avisei... Agora se espalhou! Eu te disse que era para não esquentar e você fez tudo ao contrário...
O negão, até o fim do curso foi obrigado a se calar, sem achar a mínima graça, confessou a um amigo fluminense:
- Eu, da Serrinha, zoado por este bando de “paraíbas” comedores de arroz com feijão! Em referência ao baião de dois, prato típico da região Nordeste.