ONIPRESENTE EM MIM ?

ONIPRESENTE EM MIM ?

Sou contemporâneo do ontem; moderno do amanhã. Atemporalizado pela pressa, articulado pelo desejo. Parte da mudança está em mim e não devo tomar a outra face como sendo minha. Sei que o autoconhecimento demanda já tanto de mim. Deverei me aturar até o esgotamento, utilizando mecanismos de defesa: sublimação, subterfúgios para que não me destrua antes de insistir nesse processo de (re)construção diária.

Somos lutas e lutos diários. Na pauta, o desvelamento e a síntese. Através da falta, reconheço as distâncias não inauguradas. Nem tudo que tenho é meu. Não sou nem de mim. De quem, então? Vivo por saber...

Parece que quanto mais me preencho, mais o vazio se instaura. Tenho sedes, sedes. Cedo na estrada, cedo nos atalhos. Há vazios que nem a poesia supera. Nada é suficiente. O suficiente não é nada. Quando me comparo ao antes e ao depois – relaxo - posso fazer parada, mas não me é permitido estacionar. Em mim as estações não estacionam.

Apesar de tanto amor, este não me foi suficiente. Precisei do auxílio das palavras, de seu desdobramento infindável. No discurso metafórico concordo com o que não sei. Faço as pazes com meu inconsciente. Retiro a maquiagem do que parecia explícito. Precisei do subjetivo. Precisei do sugestivo. Necessitei da poesia para não ceder à mesmice.

Meus fardos de ontem não são os mesmos de hoje nem o serão amanhã. Meu medo é fazer de mim uma grande alegoria, tão grande que nem mesmo eu seja capaz de interpretar aquilo que deveria ser o mais evidente. Ser e estar, porque serestar é algo que cabe a quem se excessiva.

Onipresente em mim? Não caibo. Não aguento. Não quero. Seria como ter todas as oportunidades e não conquistar nenhuma. Temi o amor por medo do aprisionamento. Não me domino, então não quero ser dominado.

Meu território é uma zona ilimitada. Fastio da dependência. Autossuficiente, confesso. O verdadeiro amor proclama a liberdade instante a instante. Assim deve ser. Quem adia a luta vai ao luto, fragilmente. Sepultar o passado é se redimir, receber o futuro, também!

Escolher saudades. Reciclar afetos. Guardar o essencial. Enterrar o acidental. Só vai à luta quem recolhe o luto. Estamos lutando, porque estamos vivendo – cinzas. Não quero uma vida consolada. Consoante à dor; uma lente para ver mais longe. A morte é a maior empatia que temos entre nós.

Quanto mais onipresente em mim, mais despedidas terei, mais sepultamentos, ressurreições. Se não consinto o ensimesmar-se como uma forma de voltar a si mesmo e analisar o quanto deve ser transformado, estarei me poluindo, estarei vivendo suicídios lentos. Não nego nem aceito o que me cabe a um momento, então fico sempre sangrando, sangrando até a última gota. Isso já não é o “luto diário”, mas a destruição diária. Os adeuses são impostos rítmicos...

Leo Barbosaa
Enviado por Leo Barbosaa em 20/06/2021
Código do texto: T7283280
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