O DESTINO DA POESIA
O DESTINO DA POESIA
Poesia, a quem será que se destina? A quem busca respostas ou a quem não sabe as perguntas? Todos nós precisamos de alternativas poéticas que nos impulsionem no caminho de uma humanidade que nos faça viver. Um dos principais instrumentos é a palavra, quando esta carrega a necessária carga poética. De versos para nos mostrar o nosso avesso e a diversidade que carregamos. Entre sons, ritmos e formas.
Mas, “não seria melhor transformar a vida em poesia do que fazer poesia com a vida?” , indaga o poeta Octávio Paz. Há quem faça isso sem nunca ter escrito um único verso. E “será possível uma comunhão universal na poesia”? Em tempos em que somos cada vez mais ensimesmados, preocupados com questões práticas, individualistas, será que a poesia sobreviverá ao mundo de quimeras? Creio que sim.
O que é a poesia lírica senão o ensimesmar-se? Prostrados em si mesmos, na sua dor, no amor não correspondido, os românticos falam da dor do outro, a dor que deveras sente. As dores do mundo de hoje são as mesmas de séculos passados e serão as de tempos adiante. A poesia é (des)construção, loucura, sanidade, fuga e libertação.
Porém já disse que há males que nem a poesia pode superar. Não, não há superação, não há aceitação, mas há compreensão. Vários poetas já tentaram definir o amor e estamos sempre no exercício da metalinguagem para podermos compreendê-la, a poesia. Qualquer tentativa parece vã diante de uma abstração tão palpável. Há algo mais concreto que os nossos sentimentos?
Nesse discurso que faço parece que defendo a poesia com uma perspectiva de quem escreve por inspiração. Não, é mais que isso. É aspiração do belo e do feio. O poeta é como um escultor que lapida à exaustão a pedra bruta, até encontrar a forma que o agrade. Ele trabalha com excessos. Condensa a matéria rude de seus olhares, escutas e cheiros para depois transformá-la. É aquele que não se permite ter a “vista cansada”. Não cede à mesmice. É inquieto.
Olhares desavisados ou bajuladores estão aplaudindo as indústrias de rimas, mas não reconhecem que estas não poetizam. Perderam o tato. Perderam a mão que realmente necessitam no ombro. O oportunismo está assolando o poético. Neste, não cabe o discurso lógico. O estranhamento é a sua matéria-prima. Não tem utilidade, mas está preenchido do simbólico.
A poesia faz isto: envolve o acidental com uma atmosfera essencial. Ninguém me pergunte por que fiz um poema tampouco qual é a sua significação. Não dimensiono a palavra. Também não estou lutando contra ela. Quero abraçá-la, mas minhas mãos não conseguem envolvê-la por completo. Por isso que também não sou inteiro, porque a parte que me falta cabe à palavra que não cabe em mim.