Emoção

Chegava com uma forte onda de calor e tomava o corpo todo. O rosto ardia, o coração batia mais forte, as mãos poderiam suar. A inexperiência dava tom agudo à emoção e, muitas vezes, sentia amolecerem as pernas e uma fraqueza geral. Depois ia passando e deixava aquela sensação macia, uma sonolência boa. Crescia-se assim. Pormenores? Um dia chegou pelo correio uma carta para si. Exmo. Senhor Rafael Mendes, lia-se no envelope. Foi a primeira vez que recebeu uma carta e logo vinda de quem achava que ele, Rafael, era um senhor! Outra vez, disse o professor que a sua era a melhor composição literária! Tremeu-lhe a voz na leitura mas, ainda assim, corado que nem um tomate maduro, soube-lhe bem o triunfo. Ser respeitado pode ser comum para quem precisa de estímulos fortes mas, para quem começa, o respeito é muito apreciado. Sai-se adulto da situação, testa franzida, incapaz de brincar nos momentos seguintes. Sem ser em altura, crescemos por dentro. Pedem-nos opinião que ainda nem temos, confiam-nos um segredo, pegam-nos na mão. Somos, desta forma, jogados para o outro lado da vida. Um rapaz pode errar tudo, um homem pode errar também, mas muito menos. Há, depois, um primeiro beijo, o sentar no lugar do condutor, o acabar tonto do champanhe que nunca antes bebemos. A seguir o quadro, a escultura, o livro erótico, a perda da inocência. Por fim, ai, a tua pele…

Edgardo Xavier
Enviado por Edgardo Xavier em 20/06/2021
Código do texto: T7283153
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