Tarde

Tarde (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)

O sol inicia-se a esconder no horizonte. São quase dezoito horas. A brisa fria é sentida no rosto emagrecido e com pouca barba do andante. Pequenos raios solares ainda iluminam a vasta estrada, onde cercas de arames rodeiam o pasto com ar seco vindo dos ventos frios das noites passadas. O casal de gaviões voa apressadamente para o sentido norte, provavelmente deverá estar à procura do ninho, onde os três pequenos filhotes o esperaram. O papinho dos filhotes deverá estar vazio e os pais devem estar levando algo para o jantar. A pomba dá um pequeno voo da árvore onde está e vai para outra árvore mais longe. Não demora muito, pois o vento frio balança as penas da calda. Imediatamente, mergulha no vasto vácuo e abrindo as grandes asas voa para outro local, um lugar mais longe onde não será mais vista na tarde.

Sentindo o frescor ar no rosto, o andante para por alguns instantes. Olha para a colina e lá vê os últimos raios do sol, que lentamente somem entre as árvores e deixando para trás rastros de poucas nuvens deixadas na tarde. Sorri e pensa consigo mesmo como a natureza é linda e mais lindos são os detalhes feitos para serem admirados pelo andante. A cor do pôr-do-sol é diferente. Não mais está laranjada e sim uma cor cinza mais passando para o branco. Na mente, ele pensa que será uma noite muito fria. A temperatura poderá chegar perto de um dígito e geadas poderão vir.

Contando mais uns passos, ele novamente interrompe a caminhada, pois pousado no arame ao lado, um solitário canário canta alegremente, como se fosse um canto solo mais lindo e afinado. Deverá estar procurando a amada ou se não estiver, procurará um novo abrigo e o canto será uma comunicação para os amigos e parentes. Canta por algum tempo e percebe o caminhante. Olha para ele. Canta mais uma vez como se estivesse despedindo. O canário dá um pulo, abre as asas e some na finda tarde , rumando para mais uma árvore do outro lado do rio. Lá deverá ser a hospedagem na noite.

Balançando a cabeça como se estivesse feliz com a apresentação do canário, o vagueador vira o rosto para a estreita estrada, com gramas no meio dela e duas trilhas. Ficou parado ao ver uma pequena mariposa que pousava em vários ramos. Não ficava por muito tempo. Lá pousava e lá se ia. Balançou a cabeça e imaginou onde ela passaria a noite. Deveria ser em algum lugar bem seguro, pois, do contrário, seria jantar para algum pássaro.

Os raios solares não mais iluminavam a estreita estrada. A noite já se iniciava e com ela a primeira estrela a brilhar no céu, bem lá no fundo. O caminhante parou mais uma vez e olhou atentamente para a pequena estrela. Pensou, mais uma vez consigo mesmo, a que distância estaria aquele brilho. Talvez centenas de milhões de quilômetros. Refletiu que talvez ela ainda não estivesse viva, pois a distância é imensa e já teria morrido há milhares de anos. Lembrou, também, do professor de astronomia que o incentivou a olhar para o céu. Permanecendo parado por alguns minutos, ele olha novamente e vê outras estrelas a brilharem no campo celestial. Coçou a cabeça. Olhou mais uma vez para o alto e lembrou de um amigo, um grande estudioso de vidas além da terra. Ele deverá estar certo.

Deu um pequeno pulo ao lado, quando o vento fez com que um ramo de capim lhe tocasse a perna. Imaginou ele que fosse uma cobra. Sorriu ao sentir que era apenas um ramo e continuou a jornada.

À esquerda, viu que uma árvore balançava lentamente os galhos. Era a pressão do vento aumentando naquele momento. Já se escurecia e a brisa se tornava mais forte e fria. Desviou o olhar para aquela linda árvore e observando o anoitecer, ele viu quantas formas geométricas aquela grande árvore apresentava desde o tronco até as últimas folhas, lá no alto.

Aos poucos, observando a árvore, a noite já dominava totalmente o ambiente. Não se via mais nada. Os pássaros já foram para os ninhos, a mariposa deveria estar dormindo ou se transformou em jantar. As formigas começavam a trabalhar em uma labuta corriqueira. Saiam das tocas e cortavam tudo o que estivesse pela frente.

As mãos já começavam a sentir o frio da noite. Os pés calçados por um par de chinelos já sentiam a diferença climática. O nariz já esfriava a ponta. Um pequeno arrepio já era sentido naquele franzino corpo. Olhando à volta, viu que não havia mais nada de interessante para ver. Erguendo a cabeça com precisão, ainda a levantou para o alto e sentiu uma pequena luz em direção ao rosto. Era a luz da lua cheia, que, ao contrário do pôr-do-sol, emanava aquele brilho tão esplêndido, cheio de energia, cheio de vigor e cheio de beleza. Fixando os olhos na direção dela, ele pode sentir a alegria de viver naquele local afastado da civilização. A lua cheia parecia um lindo queijo mineiro, bem fresquinho, bem temperado e de muito sabor.

Após observar toda a beleza daquele início de noite, ele pôs as mãos para cima e saudando a lua cheia falou alguns versos e tentou dizer uma pequena crônica. Tinha ele facilidade para isso, pois era poeta e escritor.

Feliz por estar naquele lindo local, colocou as duas mãos nos bolsos da calça e partiu para a casa, onde era esperado pela família.

JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO
Enviado por JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO em 20/06/2021
Código do texto: T7283091
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