Crônica do fim: Anelo. Parte 4

Oscar Wilde escreveu que só existem duas tragédias em nossa vida. Uma, era satisfazer todos os nossos desejos . A outra, era não satisfazer nenhum.

Os meus, por Ela, Amanda, que a partir de agora nomeio, para crispar de sentido Sua transformação na narrativa ficcional que o é para aliviar a realidade do desastre, indicavam uma espécie de efeméride, onde urgia registrá-la no livro de minhas incógnitas emoções a seu respeito.

Bem explicado, então, a partir de agora tudo, exatamente tudo, se perderá na mistura involuntária que serve de amparo epistemológico para toda literatura. E, se isto lhe escapar, improvável leitor, terá imensa dificuldade em afastar-se da necessária lucidez diante do que se avizinha. E, o amálgama entre sonho e pesadelo, entre a recusa e o abraço, esfrega-se, inconteste, em nossas caras. Vamos.

Amanda e eu éramos conhecidos estranhos, um para o outro. De minha parte, o que já nos é difícil perquirir, experimentava aquela tensão atmosférica cediça no mesmo espaço frequentado com outra pessoa, na qual há uma catadupa de inflação dos apetites. Esta sensação fulgurava, em mim, um sol de agradáveis sentimentos que só existiam na presença de Amanda. Busquei-os noutros endereços. Encontrei outros. Nunca os que Ela provocava.

Resignei-me, cedendo à ignorância da natureza destes.

O erro, pois erro é tudo aquilo que aprendemos a priori e não utilizamos a posteriori, foi esse. Uma hecatombe de erro!

O preço veio com a força de deuses assustados. E, mesmo destruído, paguei feliz.

Arrastando o tempo para trás, esticando a corda umbilical que nos liga a este conceito muito mal explicado, lembro que foram seus olhos, olhos de Amanda, verdes no seu refúgio, que encetaram a plêiade de insânias que se sucederiam, a partir dali. Não, Não, e não. Não afirmo ter ela deliberado aquele olhar, mas foi-me entregue ao arrepio de suas intenções. Bastou para defenestrar o pouco de retidão que eu ainda guardava em escrúpulos fugazes, macilentos.

Esperei guardarmos a distância física necessária, aquela que faz sala para as reticências da primeira vergonha de qualquer cortejare enviei-lhe, nervoso, a neófita mensagem, por meio destes aplicativos que foram criados para acabar com a hipocrisia conjugal de quem conjuga qualquer coisa e certo está que aí há um valor imanente.

Aqui, leitor, o assalto, que ecoou em recrudescimento , estava convencido, por transfigurar a poesia inalcançável do genus irritabile vatum:

Amanda, como sói aqueles que se deixam vitimar pelas tentações, pois vislumbram não fazê-lo se traduzir em oportunidade nunca mais oferecida, valho-me do poeta e atiro-te o que mais quero neste mundo frugal:

"O que gosto no teu corpo,

É teu sexo;

O que gosto no teu sexo,

É tua boca;

O que gosto na tua boca,

São as palavras!"

Amanda não o pode resistir. Repelir o que lhe, mais tarde me confessou, transiu a carne e o espírito, não foi uma alternativa.