Me tira o sono

Balançando o berço, tento pôr para dormir a minha criança interior. O mundo real me tira o sono.

Não descanso. Se os olhos são a janela da alma e os meus estão sempre cansados, o que isto diz sobre mim? Fecho os olhos, tentando ressuscitar esta alma que, em algum momento, já foi leve.

Um sopro de esperança.

Me recordo dos dias infantis, os contos de fadas maternais me colocavam para dormir, um cafuné embalava o sono, o sossego após um dia de brincadeiras e gritos, com uma voz calma a trilhar caminhos encantados, gracejos que a vida, bruscamente, nos arranca ao crescermos.

Hoje sinto o peso da ansiedade da vida e me iludo para continuar vivendo, já ouvi dizer que tenho a cabeça nas nuvens, talvez seja verdade… nuvens carregadas, mas faz tempo que não chove. É o tempo nublado que me deixa angustiada, nada acontece, embora a iminência de chuva me deixe alerta, preocupada com nada.

Mergulho em meus devaneios, buscando o marasmo infantil que perdi muitos anos atrás, tento, em vão, não me afogar naquilo que criei, a profundidade é tanta que me inunda os pulmões, me enche o corpo, me revigora, pontualmente, a alma. Os olhos permanecem fechados, a alma está aberta à mudança, mas não existe descanso para uma mente barulhenta e, constantemente, preocupada com o amanhã.

O cansaço sussurra cantigas ao meu ouvido, enquanto a ansiedade me beija a testa e eu me rendo aos devaneios que, ironicamente, me mantém sã, finalmente durmo, de conchinha com a incerteza de como será o amanhã.

Brenda Nascimento
Enviado por Brenda Nascimento em 17/06/2021
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